domingo, 18 de janeiro de 2015

Crítica de "Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo"

Quando anunciou-se que um novo filme sobre luta iria chegar aos cinemas fiquei animado. Só o gênero em si me atrai. Exemplos disso são a antologia Rocky (a qual sou fã há bastante tempo), além de grandes filmes como "Menina de Ouro", "O Lutador" e "O Vencedor". Eis que surge Foxcatcher. Além de ser de um gênero que eu costumo admirar, o filme foi bastante elogiado em festivais mundo a fora, além de ser lembrado em importantes premiações como o Globo de Ouro e o Oscar. Tudo isso só faz com que a expectativa aumente e que se espere não menos que um ótimo filme. É aí que Foxcatcher decepciona.

O filme conta a história real do campeão olímpico de luta Mark Schultz (Channing Tatum) que é convidado pelo bilionário John Du Pont (Steve Carell) a participar da equipe de luta Foxcatcher, um lugar com uma grande estrutura para treinos. Se não se tratasse de uma história real, a premissa do filme seria rídicula. Mas, como parece, as história mais reais são as mais difíceis de acreditar. Com uma premissa tão pouco rica a obrigação do roteiro era de desenvolver bem os personagens, fazendo com que o público se sentisse dentro daquele mundo. O roteiro, porém, não faz isso. Mark tem um bom desenvolvimento, mas não é um personagem pelo qual o público torce ou até mesmo se importe. John configura-se como aquele personagem que não sabemos o que esperar e isso causa uma certa tensão durante o filme. Porém os acontecimentos não se desenrolam e assim o público passa a não dar tanta importância ao personagem. Além disso, o roteiro apresenta situações em que não se explica o porquê de determinadas coisas. Isso torna a história deveras complicada. Isso tudo é fruto dum roteiro defeituoso e preguiçoso, pois não foi capaz de identificar os furos e corrigi-los.O final porém é o que salva o roteiro todo de ser um fiasco total. O clímax final é muito bem apresentado e apresenta acontecimentos que pegam o espectador de surpresa. A pena é que o roteiro não foi assim durante a maior parte do longa.

A direção é de Bennett Miller ("Capote", "O Homem que Mudou o Jogo"). Devido a sua carreira percebemos que o diretor gosta de filmar histórias reais em forma de ficção. Isso porque seus filmes não seguem diretamente a linha real da história. Isso não é um problema, afinal o cinema é uma forma livre de se expressar. Mas talvez em Foxcatcher, o diretor tenha exagerado um pouco. Sua direção é extremamente apagada. A câmera não dá fluidez ao filme. Nas cenas de diálogos e drama, a câmera acompanha pouco os personagens, focando somente em suas expressões faciais. Nessas cenas esse estilo de direção é válido. Porém, essa direção é mantida nas cenas de luta. Benett Miller deveria assitir "Menina de Ouro" para aprender como filmar uma cena de luta. Naquele filme, CLint Eastwood dá um show nos níveis de tensão e apreensão nessas cenas. Em Foxcatcher porém, as lutas não têm emoção e não existe aquela tensão para saber quem vai sair vencedor. Talvez a escolha do trabalho tenha sido errônea. O diretor, porém, consegue trabalhar temas interessantes sobre confiança e solidão, usando muito de artifícios como a cor preta e sombras.

O elenco é o diferencial. Channing Tatum demonstra potencial dramático. Ele conduz muito bem o filme, caracterizando bem os conflitos do personagem. Além disso, o ator está em uma forma física condizente com a do personagem. Isso demonstra um comprometimento profissional muito grande. Steve Carell também está muito bem. Deixando de lado o papel de idiota que fez nas comédias "O Âncora" e "O Virgem de 40 Anos", Steve faz um papel dramático duma forma muito convincente e desenvolve bem o que o diretor o pediu. Talvez o grande erro mesmo tenha sido o roteiro que o prejudicou na hora de dar um aprofundamento a mais ao personagem. O destaque do elenco porém é Mark Ruffalo. Ele interpreta o irmão de Mark. Servindo de uma figura paterna ao protagonista, Mark Ruffalo consegue demonstrar-se um ator versátil e extremamente eficiente. Além disso, o ator também está em plena forma física para o filme. Pode ser que esse seja o seu maior filme (artisticamente falando). O trabalho de maquiagem é excelente, destaque para a maquiagem de Steve Carell que muda totalmente o rosto do ator.

Outra coisa que me incomodou foi o subtítulo brasileiro. Em outras obras como "Whiplash - Em Busca da Perfeição", apesar de apresentarem subtítulos dispensáveis, são condizentes com o filme. Porém com "Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo" isso não acontece. Afinal, essa história chocou a quem? A maioria das pessoas não conhecia a história antes de ver o filme. O subtítulo brasileiro exagera muito ao dizer que trata-se de uma história que chocou o mundo. É triste criticar um filme com tamanho potecial. Este porém foi extremamente desperdiçado. Com roteiro e direção preguiçosos, filme sobre luta não é condizente com o gênero e apenas se destaca devido ao elenco surpreendentemente bom.

Nota: 

- Demolidor

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Crítica de "Invencível"

2°Guerra Mundial. Com certeza um dos temas mais debatidos nos cinemas. Já foram passados às telonas grandes batalhas, histórias de grandes heróis de guerra, massacres etc.. "Invencível" chega as telonas como um novo filme do gênero, mas se diferencia em diversos aspectos. O filme conta a história de Louie Zamperini (Jack O'Connell), um corredor olímpico americano que está lutando a Guerra. Após sofrer um acidente de avião, Louie é capturado pelos japoneses e assim desenvolve-se sua jornada pela sobrevivência.

Depois de ter visto o longa percebe-se que Louie é um grande herói. Tornou-se um exemplo de superação e perdão, devido a seus atos que são inspiradores. Era mais que justo uma pessoa tão importante, mas tão pouco conhecida, ser levada ao grande público. Através da direção da humanitária Angelina Jolie e do roteiro escrito em parte pelos Irmãos Coen, o filme tinha tudo para ser excelente. Excelente não foi, mas teve seus momentos. O roteiro oscila muito. A primeira metade do filme é espetacular. O público consegue se apegar aos personagens facilmente e as cenas conseguem ser extremamente dinâmicas. Mesmo nas cenas sem ação, o roteiro desenvolve diálogos importantes que ajudam a caracterizar bem o protagonista. A segunda metade, porém, possui diversos deslizes. O longa torna-se demasiado lento e o roteiro perde aquele apego aos personagens. Tudo bem que Louie continua sendo querido pelo público, porém os personagens coadjuvantes tornam-se extremamente dispensáveis. Além disso, o filme cede ao antigo clichê de caracterizar os japoneses como os vilões. Certamente existiam japoneses que torturavam impiedosamente por prazer, porém também existiam pessoas que apenas faziam aquilo devido às cirscunstâncias da guerra. Isso tira um pouco a humanidade dos japoneses e faz com que o filme torna-se o típico drama americano onde os EUA estão certos sempre.

A direção é de Angelina Jolie. É apenas o segundo longa que ela dirige, mas ela se sai bem. Os movimentos de câmera são bem fluídos e acompanham os personagens. A edição do filme é muito boa, o corte de uma cena para a outra é muito cuidadoso. A fotografia usada é belíssima. Visualmente é uma excelente reconstruição histórica, com paisagens muito bem usufruídas. O grande problema da direção é o receio da Angelina de cortar algumas cenas desnecessárias. Não que estas sejam ruins, mas tiram o dinamismo do filme e tornam o longa demasiadamente longo. A trilha sonora entra nas cenas certas, com uma música emocionante e condizente com a cena. Aliás, existem cenas irretocáveis, onde Angelina mostra que pode ir longe. Talvez tenha sido precipitado ela filmar Invencível no início de sua carreira, pois com experiência por trás das câmeras, Angelina poderia ter feito um trabalho infinitamente superior.

A atuação de Jack O'Connell é boa. Ele consegue sustentar o filme todo sozinho, mas é bastante facilitado pela personalidade de Louie.O ator não é excelente, mas consegue fazer desse papel um grande salto para a sua carreira. Sua atuação deve ter sido bastante facilitada pela direção de Angelina Jolie, que preza primeiramente dirigir seus atores. O longa é uma grande homenagem a Louie que veio a falecer em 2014. Com certeza é uma história que precisa ser conhecida. Mas talvez o filme não tenha sido ideal para contar essa história. Apesar de tudo, a diretora apresenta potencial para trabalhos melhores, assim como o ator principal que consegue se destacar.O filme foi lembrado pela Academia ao ser indicado a 3 Oscars, porém todos relacionados a especializações técnicas. Dirigido por Angelina Jolie, "Invencível" entre altos e baixos, emociona ao mesmo tempo que entedia.

Nota: 

- Demolidor

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Crítica de "Whiplash - Em Busca da Perfeição"

Jazz. Um estilo musical genuínamente norte-americano que faz parte da própria história do país. Atualmente, claramente, o gênero perdeu um pouco sua força. No século passado, por exemplo, os Estados Unidos foram berço de diversos artistas consagrados ao redor do mundo. Exemplos desses sucessos são Charlie Parker e Ray Charles. Ambos ganharam cinebiografias como "Bird" e "Ray". Para os fãs do jazz, os filmes foram interessantes para conhecer a história dos artistas e seguem um roteiro deveras premeditado. Chegamos então ao ano de 2014, onde somos apresentados a um novo filme sobre o jazz. Porém "Whiplash" traz uma temática totalmente nova e usa da música apenas como um consoante da revelação da verdadeira natureza humana.

O filme acompanha o jovem bateirista Andrew (Miles Teller) que é novato na melhor escola de música do país, o Conservatório Shaffer. Ele começa a fazer parte da orquestra comandada por Fletcher (J. K. Simmons) e lá sofre mais pressão e é incentivado sempre a atingir a perfeição. A primeira cena do filme é um quadro aberto num corredor e vai afunilando até nos apresentar o protagonista. Logo na primeira cena percebemos que o bateirista é empenhado e está se esforçando. Logo de início, Fletcher também aparece rebaixando e humilhando Andrew. Toda essa cena inicial já nos dá o tom que o filme vai tomar. Isso é um acerto muito grande do diretor, pois já estamos conectados na história desde o início.

O roteiro é bem escrito. Pode ser considerado monótono, por tratar apenas da luta de um aluno esforçado contra um professor tirano. Porém, o roteiro toma excelentes decisões que deixam o filme dinâmico. A construção dos personagens é incrível. Andrew, por exemplo, começa como o típico fracassado que não tem confiança em si próprio e aceita muito o que os outros pensam ou mandam. Porém, de acordo com o decorrimento do longa, o personagem vai ganhando personalidade e desafiando algumas coisas que ele nunca faria no início. Isso mostra um roteiro que desenvolve um personagem durante um filme apenas e faz com que o público "se orgulhe" por ele ter passado por todas essas provações e ter evoluído no final. Todo esse trabalho escrito é acentuado pela excelente atuação de Miles Teller que, como seu personagem, começa inseguro, mas vai evoluíndo durante o filme.

Mas, quem realmente merece destaque é o personagem Fletcher. No início o espectador sente um desgosto pelo personagem, até mesmo raiva. Conforme a história se desenvolve entendemos realmente a intenção do maestro. Na verdade ele não é uma pessoa má. Mas como diz num dos diálogos mais profundos do filme seu método de ensino não promove elogios, mas sim críticas que farão com que seu aluno tente superar mais e mais. O fato de seu ensino ter seus imensos defeitos por às vezes chegar a uma tortura emocional é indiscutível. Porém, através de pequenos detalhes do roteiro conseguimos compreender o porquê daquilo, concordando ou não. Esse personagem já foi uma grande sacada para o enredo, porém J. K. Simmons o engrandece mais ainda.

 O ator é o típico coadjuvante que todos conhecem de rosto, mas não sabem seu nome e nem reconhecem sua capacidade artística. Ele participa de grandes sucessos como a trilogia do Homem-Aranha dirigida por Sam Raimi ou pela comédia "Juno". Nesses trabalhos, Simmons não é capaz de desenvolver seu talento, portanto não é muito reconhecido. Todavia, o trabalho em Whiplash merece aplausos. Simmons dá seu próprio toque ao personagem e passa uma emoção por trás daquele homem metódico e extremamente perfeccionista. O ator consegue fácil roubar a cena durante o filme todo e sua atuação durante todo o longa é admirável. O inusitado é ele ser reconhecido por trabalhos como esse, projetos pequenos sem muita perspectiva que demorou pouco para ser gravado, do que em grandes obras Hollywoodianas.Isso reforça a ideia de que muito talento possa estar sendo subjulgado e até mesmo desperdiçado em Los Angeles. Uma prova de que seu atual trabalho merece destaque foi que o ator ganhou merecidamente o prêmio do Globo de Ouro por melhor ator coadjuvante. E o Oscar vem aí...

A direção (assim como o roteiro) é de Damien Chazelle. Ele escreveu o roteiro do filme "Toque de Mestre" anteriormente, mas não tem uma carreira conhecida. Esse é seu grande trabalho. A direção é o destaque. Damien usa de tomadas até mesmo sufocantes para contar a história. Existem cenas que a câmera poderia muito bem ficar parada sem que nada acontecesse. Porém, o diretor faz movimentos velozes com a câmera focando nos olhares dos personagens e isso causa uma tensão impressionante. A cena escrita não era suposta de dar tanta tensão assim, porém com uma direção afiadíssima Damien consegue superar seu próprio roteiro e deixa o filme mais interessante de ser assistido.

O longa consegue ser apreciado até por aqueles que não são muito por dentro do jazz. Eu, por exemplo, não sou muito conhecedor. Porém, o longa além de apresentar uma bela história, faz com que o público se interesse pelo gênero. Além disso, apresenta métaforas interessantes como: O que é mais importante: o talento ou a dedicação? A resposta não é dada, mas percebemos que Damien Chazelle possui os dois ao realizar Whiplash. Único, sarcástico, dramático. Uma bela surpresa. O filme apesar de excelente, definitivamente não é uma obra-prima e talvez venha a ser esquecido pelo público geral. Uma pena, pois "Whiplash - Em Busca da Perfeição" mostra que o cinema artístico e o que entretém podem estar interligados em uma só obra.

Nota: 

- Demolidor

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Crítica de "Ida"

Polônia. Quando cita-se esse país é inevitável que a memória mais forte situa-se num dos períodos mais conturbados da história mundial: a Segunda Guerra Mundial. A Polônia foi o primeiro país a ser dominado pelos nazistas e lá viviam muitos judeus. A Polônia então foi alvo de muitos massacres à sua população, cicatrizes que ainda ardem nos dias atuais. Então, o que seria conveniente para um diretor polonês contar a história de seu país? Bem, a resposta que provavelmente muitos dariam seria um drama de guerra, que contasse realmente os acontecimentos que ocorreram naquele lugar. "Ida", porém, vai muito além disso. Em vez de tomar essa decisão clichê, o filme conta um drama atual, mas fortemente ligado com o passado. Acompanha a freira Ida (Agata Trzebuchowska) e sua tia Wanda (Agata Kuleska) em busca de respostas pessoais. Ida descobre que seus pais eram judeus através da tia, e ambas embarcam numa jornada em busca da família.

Talvez o grande acerto do filme seja a relação entre as duas protagonistas. Como uma freira extremamente católica prestes a fazer seus votos reagiria sabendo que seus pais eram judeus? O que torna a relação das duas tão interessante é que acompanhamos desde o momento em que as duas se conhecem.É perceptível o choque que as personagens causam uma na outra. Os conflitos entre elas são excelentes, muito bem escritos. Esses conflitos fazem pensar que trata-se de uma luta entre o bem e o mal, o que é certo e errado. Mas, o filme com uma sutileza do roteiro mostra que não existe nada disso. Mesmo a freira "quase santa" pode ceder a atitudes consideradas erradas e mesmo a juíza que cede facilmente a desejos carnais pode realizar alguma ação boa. No final, percebemos que apesar de serem tão diferentes, as personagens se complementam e são essenciais uma para a outra durante a história.

O roteiro talvez não possa ser considerado muito bom. A história em si é bem monótona e o espectador não se apega aos acontecimentos.É uma mistura de drama com road movie.A história em si não prende a atenção do público. O que realmente salva é a relação entre as personagens, que nos fazem refletir sobre a nossa própria vida. A atriz que interpreta Ida está em seu primeiro papel cinematográfico. É um papel bom, eficiente, mas que não merece destaque. Enquanto isso, a atriz da tia Wanda está excelente. A emoção passada por suas expressões faciais são claramente convincentes e o desenvolvimento que ela dá para a personagem é excelente. A direção do filme é de Pawel Pawlikowski. Ele usa em todas as cenas a câmera parada. Em nenhum momento do filme a câmera acompanha a movimentação dos personagens. Isso limita um pouco a área de atuação dos atores, mas a escolha consegue ser acertada devido à simetria presente. Os planos que o diretor usa, na maior parte das vezes, usa dum eixo simétrico para dividir a tela ao meio em duas partes iguais. Isso causa uma beleza insubstituível ao longa, ainda mais por este ter sido rodado em preto e branco. Aliás, a direção lembra muito os filmes antigos em preto e branco, onde a câmera permanecia sempre estática.

A montagem do filme é muito bem feita. As cenas têm exatamente a duração necessária. O filme dura apenas 80 minutos, mas é mais do que o suficiente. O roteiro infelizmente não é cativante e por isso o filme perde um pouco nesse quesito. Porém, devido a boas atuações, uma direção referencial e conflitos extremamente bem trabalhados o filme torna-se assistível e essencial para fãs de cinema europeu.

Nota: 

- Demolidor