quinta-feira, 25 de abril de 2019

Crítica de "Vingadores: Ultimato"

Esta não é uma crítica normal. Dito isso, tenho mais liberdade para (tentar) expressar todo o impacto que a sessão de meia-noite de "Vingadores: Ultimato" representou para mim. Ao sair da sala de cinema, depois de um mix de emoções provido pelo excelente desenvolvimento da história, deparei-me com a seguinte constatação. Por que será que uma franquia, iniciada 11 anos atrás, tem um apelo emocional tão forte e dialoga com tanta gente ao redor do mundo? Não se trata apenas de olhar sob um viés puramente lógico a essência dos super-heróis como representação daquilo que queríamos ser quando criança, mas sim de reconhecer a importância de tais seres em um contexto social tão problemático a nível mundial Ora, assim como nas próprias histórias em quadrinho, sociedades que apresentam instituições falidas baseiam-se em sonhos inalcançáveis - espécies de utopia - que expressam uma verdadeira fuga da realidade. Esse, aliás, é um dos papéis atribuídos à arte. Mas o que a Marvel fez, seguindo esse pressuposto, consegue ir além por, justamente, criar um imaginário coletivo a respeito daqueles personagens. E à medida que os filmes se passaram e chegamos nesse que se propõe a ser o último dessa fase, entendemos que os Vingadores não são meros heróis. Os Vingadores são um símbolo, uma necessária renovação da esperança na cooperação da humanidade em meio a tantos problemas aparentemente insolúveis. Eles são uma espécie de constante lembrete do nosso potencial enquanto seres humanos, e é por isso que tudo em Ultimato parece tão arrebatador. Mais do que personagens, aqueles heróis são símbolos. E símbolos ficam para a história.

Para além do simbolismo, entretanto, esse filme é o retrato de uma geração. Geração esta, na qual eu me incluo, que, quando criança, conheceu um personagem novo super charmoso e que chegaria para ser o comandante da Marvel nos cinemas. O Homem de Ferro de Robert Downey Jr é, sem sombra de dúvidas, um dos personagens mais icônicos da história do cinema. O tempo foi passando, fomos crescendo, conhecemos novos heróis, vimos a reunião deles, a separação, até uma reunião grandiosa iniciada pelo excelente "Vingadores: Guerra Infinta". Mas, por que então apenas "Vingadores: Ultimato" seria considerado o filme de uma geração? "Vingadores: Ultimato" é o filme da geração por reunir, nas mais de 3 horas de duração, todos os elementos que consagram a Marvel nos últimos anos. E isso vai muito além da mera "fórmula" de contar histórias, mas também no profundo desenvolvimento dos personagens, dotados de dramas intensos. Além disso, o roteiro de Christopher Markus e Stephen McKeely parece estar perfeitamente inserido no Universo Cinematográfico da Marvel. É como se todos os 21 filmes antecessores tivessem sido feitos para culminar aqui. Isso demonstra uma incrível continuidade narrativa e uma grande coesão, o que reflete, mais uma vez, a grande capacidade de Kevin Feige em proporcionar momentos de pura emoção. Ao mesmo tempo, o roteiro não se furta de apresentar conceitos novos à história, com referências a filmes de ficção científica e fantasia que engrandecem a linha narrativa principal.

O que difere o roteiro das demais películas da Marvel talvez esteja na maior preocupação com o desenvolvimento da relação entre os personagens. As mágoas, as saudades, as amizades, as chegadas, as partidas - tudo aqui é demonstrado de uma maneira muito crua, o que traz muito peso aos acontecimentos da história. Como acompanhamos esses personagens há mais de 10 anos, eles transcendem a figura de uma criação e se tornam verdadeiros amigos. O público que é fã é capaz de definir, com perfeição, as características de cada herói. E, nesse sentido, é impossível fazer esse reconhecimento sem homenagear o gênio por trás disso tudo: Stan Lee. Stan Lee, talvez o maior criador de heróis de todos os tempos, baseou seu trabalho na imaginação de seres com super poderes, mas com problemas humanos. É por isso que a Marvel sempre teve a fama de possuir heróis mais "pé no chão", enquanto a DC trata de seres mitológicos e divinos. Nesse sentido, o peso emocional proporcionado pelas relações é exacerbadamente ampliado devido à intensa qualidade de um elenco que, embora estrelado, parece reconhecer a importância daqueles personagens no imaginário popular. Scarlett Johansson, Robert Downey Jr, Chris Evans, Mark Ruffalo,Chris Hemsworth, Brie Larson, Paul Rudd, Jeremy Renner: todos são destaques. Por outro lado, o drama também é atenuado por momentos de puro êxtase; uma empolgação genuína provocada por cenas em que todos os fãs sempre sonharam em ver. Felizmente, porém, tais momentos são inseridos de maneira gradual de modo a terem seus momentos de contemplação e absorção.

E, nesse sentido, a direção dos irmãos Russo mostra-se, mais uma vez, competente ao conseguir mesclar diferentes sentimentos ao longo da película de modo a resultar em uma experiência cinematográfica completamente impactante. As cenas de ação são épicas, o humor é bem dosado, o drama é potencializado, e os "fan services" são recorrentes. O ritmo, desse modo, é bem acelerado, o que deixas as longas horas de duração bem mais curtas do que parecem. "Vingadores: Ultimato" é um daqueles filmes que você sai da sala de cinema ainda sem saber como reagir, mas com a certeza de que foi algo histórico. Todo o simbolismo, toda a dramaticidade e todo o amor empregados aqui tornam o filme uma experiência fora do convencional para o público em comum, mas, para os fãs, é realmente um filme sem precedentes. É impossível possuir um julgamento completamente racional acerca de uma história na qual eu me aventuro desde criança, mas é perceptível como a película é capaz de, através de seus elementos técnico-artísticos, elevar o potencial emocional da história. Ao início dos créditos finais, apenas uma certeza fica: "Vingadores: Ultimato" é o filme de uma geração, marcado por um roteiro capaz de emocionar e empolgar, por um elenco totalmente empenhado e uma direção que entende onde quer chegar, fazendo isso com maestria.

Nota: 

- João Hippert