quinta-feira, 28 de abril de 2016

Crítica de "Capitão América: Guerra Civil"

Marvel. Nos dias atuais este nome tem se tornado sinônimo de dominância das telonas. Com uma média de 2 filmes por ano, a empresa inclusive possui 3 das 10 maiores bilheterias de todos os tempos (Homem de Ferro 3 e os 2 filmes dos Vingadores). Mas, não se engane; isso não significa perfeição. Apesar da Marvel possuir excelentes películas como "Homem de Ferro", "Os Vingadores", "Guardiões da Galáxia"; também possui algumas catástrofes como "Homem de Ferro 3" e "Thor". Mas, apesar de tudo isso, a Marvel continua sendo a principal empresa cinematográfica visada no mercado. A que se deve esse fato? Ora, muito se deve ao presidente Kevin Feige que, antes de qualquer um, pensou na possibilidade de um universo coeso dos heróis no cinema, assim como acontece nos quadrinhos. Os anos foram se passando e o público foi conhecendo os personagens: odiando alguns, adorando outros. E, 8 anos após a estréia do primeiro filme do UCM (Universo Cinematográfico da Marvel) chega aos cinemas o embate entre os dois vértices da produtora: Capitão América e Homem de Ferro. Baseado na homônima HQ "Guerra Civil", o filme começa com um ataque, durante uma missão dos Vingadores, que resulta na morte de muitos civis. O poder público, então, se mobiliza e oferece aos heróis uma espécie de acordo que limitaria a liberdade de atuação do grupo. Eis que surge a polarização da equipe: de um lado, comandados por Tony Stark, estão os defensores do acordo, enquanto do outro estão os contrários a essa legislação, chefiados por Steve Rogers.

Primeiramente, há de se dizer que existem muitas diferenças entre o material original e o filme, Mas, isso é completamente compreensível. Com a divisão dos heróis entre Sony e FOX, o longa não pôde contar com os X-Men nem com o Quarteto Fantástico, elementos fundamentais para a história em quadrinhos. Além disso, aqui vê-se o aparecimento de personagens inexistentes na HQ como é o caso do Soldado Invernal. Mas, os roteiristas Cristopher Markus e Stephen McFeely (responsáveis por todo o universo do Capitão América nos cinemas), realizam um primoroso trabalho de adaptação. Mesmo com as diferenças quanto a mídia primordial, o roteiro consegue captar a essência do conflito entre os personagens e aprofundar nesse assunto. Enquanto no recente fiasco da DC "Batman vs Superman" os heróis lutam sem motivação alguma, aqui vê-se um nítido embate entre ideologias. E foi esse fato que movimentou tanto as redes sociais. A divulgação do filme foi fantástica e os fãs entraram na brincadeira Time Homem de Ferro ou Time Capitão América. A escrita do filme contribui muito para o engrandecimento da história, visto que acresce camadas aos personagens, já tão conhecidos. E o melhor: tudo isso é feito num curto espaço de tempo. Pode-se dizer que a palavra que define esse filme é funcionalidade. Basta lembrar que o Pantera Negra e o Homem Aranha ainda não existiam no Universo Marvel. Aqui, porém, eles recebem o tempo necessário para conhecermos os personagens e nos importarmos com eles. E o melhor: os roteiristas entendem que o grande público já conhece o Amigão da Vizinhança, portanto não se preocupam em apresentar uma história de origem. Isso dá muita dinâmica para o filme e uma espécie de familiaridade exacerbada com o personagem.

Por se tratar de um filme de super herói, muitas pessoas apresentam o pré-conceito de considerar esse uma obra sem nenhuma inteligência por trás. Mas, o terceiro filme do Capitão mostra o contrário. Usando desse fundo ideológico já citado, o longa aproveita para desenvolver o panorama político mundial. É interessante a forma como o longa imagina a opinião pública quanto a presença de heróis atuando na sociedade. Por um lado, eles são os salvadores do mundo. Por outro, em seu trajeto deixam rastros de morte. Ao exprimir as opiniões dos heróis nos protagonistas dicotômicos, o roteiro provê ao espectador uma chance de se sentir mais à vontade com algum dos lados. Logicamente, tratando-se de um filme do Capitão América, a parte dele é um pouco mais valorizada. Mas, mesmo assim, as motivações de Tony Stark são claras e, até mesmo, coerentes. O humor típico da Marvel está de volta aqui. Não existe um alívio cômico; as piadas são distribuídas entre praticamente todos os personagens. Os que merecem destaque são Falcão, Homem Formiga, Visão, e, é claro, o Homem Aranha. O único problema do roteiro são algumas cenas desnecessárias que não acrescentam em nada à trama. Além disso, existem alguns erros de continuidade que se apresentam como coincidências textuais, que tentam favorecer a história, mesmo de forma errada. Apesar desses pequenos aspectos, o longa, em seu total, não é muito prejudicado. A Marvel ensina para a DC como construir um universo coeso e coerente, além de exemplificar muito bem a apresentação de personagens dentro de um único filme.

A direção dos irmãos Anthony e Joe Russo é eficiente. Como esperado, o longa apresenta inúmeras cenas de ação. A direção nessas cenas é espetacular. Misturando novas técnicas como o uso da Gopro com antigas como o recurso da câmera na mão, os diretores conseguem passar para as telas combates viscerais e extremamente realistas. Isso também é muito ajudado pela mixagem, edição de som e trilha sonora que cumprem papel crucial com essa proposta. Anthony e Joe apresentam uma direção extremamente estilizada, com combates bem coreografados e filmados. Conscientes da extrapolação das cenas impossíveis fisicamente, os diretores até inserem no roteiro trechos dos personagens brincando com a própria ignoração da física. Mas, o grande problema do filme é sua edição e montagem. Se por um lado os irmãos filmam as cenas de ação como ninguém, por outro não vêem a hora certa de parar. Existem combates desnecessariamente longos que tiram um pouco a ansiedade do espectador pelo que virá em seguida. Muitas vezes são cenas de luta em sequência que, mesmo muito enérgicas, provocam um certo tédio. O elenco do filme está sensacional. Existem momentos extremamente dramáticos no longa, mais do que a Marvel costuma prover. Robert Downey Jr prova o grande ator que é ao oferecer, possivelmente, a melhor interpretação que ele já fez do Homem de Ferro. Atualmente, é praticamente impossível diferenciar o ator de Tony Stark.

Chris Evans também demonstra uma evolução absurda, visto que dá credibilidade para algumas ações controversas de seu personagem. O ator apela para um lado um pouco mais emocional que funciona bastante com o personagem. O elenco de apoio também está muito bem. Daniel Brühl apresenta muito carisma na interpretação do vilão e consegue fugir do caricaturismo padrão. Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Don Cheadle, Paul Rudd... Todos excelentes e extremamente bem afinados com seus papéis. Não podemos dizer que é um dos melhores filmes da Marvel, pois está um passo atrás dos 3 grandes da produtora. Mas, não obstante, o longa consegue cumprir sua principal proposta: realizar um combate coerente entre os dois maiores heróis do universo cinematográfico. "Capitão América - Guerra Civil" é um filme que se destaca pelo desenvolvimento dos personagens, pela construção de ideologias e com a preocupação em relacionar o universo fantasioso dos heróis com o mundo real. Contudo, por outro lado, existem cenas de ação em demasia e excessos de roteiro que o impedem de ser perfeito.
Obs: Existem 2 cenas pós-créditos

Nota: 



- Demolidor

domingo, 24 de abril de 2016

Crítica de "Truman"

A morte. Tema difícil de ser encarado. Normalmente levanta pensamentos negativos e pessimistas em relação ao ato de morrer. Mas, a arte como arte, precisa ser o "motor" de transformação da realidade. Afinal, uma obra de arte também tem o papel de abordar aspectos inerentes a existência humana, mesmo que seja um assunto um tanto quanto delicado para certas pessoas. Mas, o cinema, sendo essa grande expressão artística que é, sempre buscou abordar as questões referentes ao óbito. Como esquecer da obra prima de Bergman "O Sétimo Selo"? Recentemente muitos filmes vêm falando sobre isso. Vale destacar os ótimos "Antes de Partir" e "A Última Viagem a Vegas". Não são filmes que tratam da morte em si, mas sim das despedidas decorrentes desse fenômeno. E é justamente essa a proposta do espanhol/argentino "Truman": a despedida.

A história não é muito sofisticada; trata-se de uma visita de Tomás (Javier Cámara) ao seu amigo Julián (Ricardo Darin). Este apresenta uma doença em sua fase terminal e essa jornada de 4 dias dos dois amigos pode ser a última de suas vidas. Note como o nome do título ainda não foi citado. Isso se deve ao fato de que Truman é o nome do cachorro de Julián. O roteiro consegue dar um foco narrativo de suma importância ao animal, visto que ele é responsável por movimentar a trama principal. É muito inteligente a forma como o roteiro complementa o "arco" do cachorro Truman, correlacionando-o com a própria amizade entre os protagonistas. Aliás, tal roteiro escrito por Tomàs Aragay e Cesc Gay, tem grandes méritos em relação aos diálogos. As falas são simples, contudo pressupõem uma parceria de longa data. Isso confere ao longa uma dramaticidade e um apego aos personagens essenciais para o desenrolar da história, mesmo não caindo no clichê dos exageros. Muitos diretores usariam do "melodrama" para emocionar o público, porém Cesc Gay opta por tratar o assunto com leveza. Afinal, a morte não precisa ser um tabu: é apenas uma fase da vida pela qual todos passam algum dia.

Essa cumplicidade entre os dois protagonistas é potencializada através do excelente trabalho da dupla principal. Ricardo Darin já virou sinônimo de qualidade ("Relatos Selvagens", "O Segredo de seus Olhos", "O Filho da Noiva", "Um Conto Chinês", etc.). O ator confere ao seu personagem um peso enorme, através de expressões faciais e gestos corporais muito viscerais. Existe um apego ao seu personagem, pois o espectador se reconhece naquela persona. Todavia, Javier Cámara não fica para trás. O ator, assim como seu parceiro de tela, exprime muito bem o sentimentalismo do momento, mas, acima de tudo, consegue retratar, de forma brilhante, o incômodo que algumas situações podem gerar. O elenco de apoio também está muito bem, conduzindo o filme de forma bem dinâmica. O diretor, mesmo contando com um roteiro tão forte, consegue, tecnicamente, contar com belas experimentações. Cesc preza muito bela beleza urbana de Madri (principal cenário do filme), através de uma movimentação limitada da câmera e pela exaltação dos detalhes da arquitetura europeia. As cenas em que a dupla de protagonistas passeiam pela rua imprimem uma beleza visual impressionante. Além disso, a trilha sonora contribui para uma imersão naquele ponto de vista do diretor. A pena é que a música não é muito presente na metragem e sua falta é sentida.

A fotografia do longa é sensacional e cumpre com um papel importante do filme: ditar o seu tom. Se no inicio nos vemos em um ambiente gélido do Canadá, com o decorrer do tempo, as cores vão se animando, mesmo com a situação adversa. Isso, além de demonstrar uma evolução da narrativa em si, apresenta uma visão positiva do diretor sobre a vida. Os diálogos intimistas e que inspiram amizade servem de plano de fundo para uma mensagem principal: a vida de Julián valeu a pena. Com seus erros e acertos, amizades e inimizades, o personagem vê que aquilo tudo foi necessário - e belo. Ao final de sua vida, ele aceita seu destino fatídico e demonstra maturidade para aproveitar seus derradeiros momentos. É uma visão extremamente tocante e até certo ponto ousada. Ao mesmo tempo que o filme não é uma ode a morte, também não a considera algo macabro. O diretor entende que a morte faz parte da vida e, através de um roteiro extremamente bem escrito e atuações excepcionais, provê uma película extremamente bem realizada quanto ao seu tema.

Nota: 

- Demolidor

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Crítica de "A Juventude"

Federico Fellini e Bernardo Bertolucci são os principais nomes da história do cinema italiano. Buscando sempre retratos mais existenciais em suas obras, os diretores marcaram época e criaram um certo "estilo de filme". Ora, quando fala-se em cinema europeu, muitas pessoas possuem um estereótipo em suas cabeças: filmes pautados em diálogos, experimentações visuais e retratos românticos de algum lugar específico. Paolo Sorrentino, o diretor de "A Juventude", tornou-se famoso com seu vencedor do Oscar "A Grande Beleza". Lá, Sorrentino realiza uma clara homenagem a "A Doce Vida" de Fellini e exprime um jeito contemporâneo de realizar cinema, sempre lembrando-se de reverenciar aqueles que o antecederam na sétima arte. Pode-se dizer que "A Juventude" complementa esse filme, visto que o recém estreado no Brasil também aborda um pouco a questão do fazer artístico. Pode-se dizer que ambos fazem parte de uma história sobre o tempo, sendo contada por intelectuais de diversos ramos da sociedade. Se em "A Grande Beleza" quem nos conta a história é o jornalista/escritor Jep Gambardella, em "A Juventude" os narradores da arte são o maestro Fred Ballinger e o diretor de cinema Mick Boyle.

A escolha de um diretor de cinema para representar a própria visão de arte é muito oportuna. Além de representar uma clássica alusão a "8 1/2" de Fellini, trata-se de um excelente retrato metalinguístico sobre a realização cinematográfica. O diretor se vê cansado e percebe que seus tempos áureos já passaram. Apesar disso, Mick percebe que a realização cinematográfica só tem significado ao representar emoções e a compara com a própria vida. É perceptível a pegada do diretor nesse quesito, visto que Sorrentino busca sempre em seus diálogos introspectivos apresentar uma visão sobre as questões que afligem o ser humano. Por causa disso muitos podem o considerar pretensioso, mas é exatamente essa sua personalidade em exprimir seus pensamentos que o torna tão autoral. Outro personagem que tem um desenvolvimento brilhante é o maestro. Ao final de sua vida, ele percebe que se dedicou demais ao trabalho e não deu tempo a família. Mas, com o passar do tempo, o público descobre que as canções compostas por ele só existem devido ao seu amor incondicional à mulher. Porém, o maestro se contradiz em momentos que discute com seu amigo Mick sobre a racionalidade ao compor músicas, em vez do sentimentalismo puro. Essa "dupla personalidade" de Ballinger é muito bem explorada pelo roteiro, visto que sua jornada é sempre uma incógnita.

A relação entre os dois personagens é o motor do filme. A dicotomia de pensamento entre ambos é muito bem feita, principalmente devido as performances estupendas de Michael Caine e Harvey Keitel. Mas, se por um lado eles exprimem suas opiniões em relação a arte, também representam a angústia de pessoas no final da vida. Teria toda a jornada até ali valido a pena? É interessante como a amizade entre os dois é construída; são diálogos riquíssimos em sentimentalismo e desilusão. "Só contamos as coisas boas um para o outro", eles dizem. Todavia, se o que resta para muitos na velhice são as memórias, para eles nem isso serve. É notório como o diretor explora esse lado: não devemos nos fixar somente em memórias que deixarão de existir, mas nos empenhar para fazer algo realmente significante. Mas, voltando para o mérito artístico do roteiro, existe um diálogo que ilustra muito bem essa preocupação de Sorrentino. Ballinger, ao conversar com um ator de Hollywood, exprime sua chateação por ser reconhecido apenas por suas "Simples Songs". O ator, ao mesmo tempo, se sente injustiçado por apenas lembrarem dele em um filme de robôs. Isso se configura como uma crítica muito grande a um realizador artístico ser reconhecido apenas por um trabalho realizado. É como se Da Vinci tivesse apenas pintado a Monalisa.

A trilha sonora é fantástica; as músicas combinam perfeitamente com o andamento do longa, sendo indispensáveis para o real apreço com a obra. O cinema é a arte visual, mas a música consegue potencializar toda essa experiência. E, se no filme anterior Sorrentino proveu imagens estonteantes, aqui o diretor preza por cenários mais simples, porém não menos belos. A metragem apresenta uma paleta frívola, mórbida e sem cores. Tal fotografia expressa os sentimentos dos personagens como a desilusão e o vazio existencial. Além disso, demonstra a visão pessimista que o longa passa da vida. Note que o maestro afirma ceder 10 anos de sua vida para fazer uma noite de sexo com uma amada da juventude. Aliás, essa tal amada da juventude serve como mote para os acontecimentos da história. Porém, tais acontecimentos não são importantes em si, mas sim para construir uma metáfora em cima disso. É um filme para ser analisado com o cérebro (e com o coração). E, se o título de um longa sobre a velhice é "A Juventude", Sorrentino mostra-se extremamente irônico. O filme é um retrato (peço perdão pelo uso da palavra) amadurecido daquilo que vimos em "A Grande Beleza". Se Jep buscava a grande beleza que o motivaria a voltar a escrever, os personagens de "A Juventude" parecem compreendê-la e, de certo modo, menosprezá-la. A vida é como uma orquestra; até mesmo a mais linda das canções com os acordes mais refinados e instrumentos mais angelicais pode acabar um dia. A existência humana é finita e o diretor mostra que essa é a verdadeira "grande beleza".

Nota: 

- Demolidor

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Crítica de "Mogli - O Menino Lobo"

Walt Disney. É impressionante como o nome de uma pessoa é imediatamente ligado a uma marca e até mesmo a um estilo de filme. Ora, todos conhecem a fórmula dos filmes da Disney. Mas, do que muitos esquecem, é o criador por trás disso tudo. Walt Disney foi um idealizador, a frente de seu tempo, que criou todo um universo de sonho necessário às pessoas de sua época, que viviam em momentos de tensão armada e crises financeiras. Mas, como todo bom retrato cultural de uma sociedade, os filmes originais do estúdio, mesmo que clássicos, não são atuais. Isso não é um desmerecimento das obras; as animações clássicas serão sempre imortais. A chamada Era de Ouro da Disney é composta por "Branca de Neve e Os Sete Anões", "Cinderela", "Bambi", "Dumbo", "A Espada Era a Lei", "Pinóquio", "101 Dálmatas", "Peter Pan", "Mogli", dentre outros. O estúdio, porém, ciente da renovação que precisava ter tomou uma decisão arriscada: tentar adaptar esses clássicos animados ao cinema live-action. Os primeiros filmes dessa leva a serem lançado foram "Malévola" e "Cinderela", que conquistaram o coração do público e a aprovação da crítica. Eis que chega a vez de Mogli (o Tarzan que teve seu filme da Disney antes que o próprio Tarzan).

No quesito roteiro, o longa segue grande parte do material original. Mogli é um menino que, depois de abandonada na selva, é criado pelos lobos. Certo dia, porém, um tigre chamado Shere Khan ameaça matar a família de lobos se esta não entregar o garoto. Mogli segue, então, em uma jornada com a pantera Bangheera em direção à aldeia dos homens. Os animais clássicos estão de volta: Baloo, Bagheera, Kaa e todos os outros. Todavia, mais do que isso, esses personagens apresentam uma profundidade que não existia no filme de 1967. Enquanto a animação era superficial ao se tratar dos coadjuvantes, o filme atual preza por desenvolver as características principais de seus personagens. Isso promove um grande apego a seus sofrimentos, assim como suas motivações são críveis. Remontando o clássico, o filme até mesmo possui uma excelente reinterpretação da música "Necessário, somente o necessário...". Outro ponto bastante positivo do roteiro é a apresentação de Mogli, sua história, assim como o seu arco sendo construído do início ao fim. Aqui se vê uma preocupação com uma espécie de verossimilhança, ao mesmo tempo que não se esquece de se tratar de um universo fantástico. Note como os homens, mesmo sem aparecerem, são os vilões do filme, já que são os responsáveis pela destruição da natureza. "Ele não pode voltar a aldeia, pois assim virará um homem", disse Baloo. Trata-se de uma crítica severa ao desmatamento desenfreado, ao descaso com a natureza, assim como à grande necessidade de poder que o homem possui. O vértice dessa busca por autoridade é metaforizado pelo fogo, a chamada "flor vermelha". O roteiro também acerta ao demonstrar apreço com a natureza, não só em relação a preservação, mas também quanto as relações biológicas entre os animais. É extremamente interessante observar como o comportamento de cada animal é retratado e como isso contribui para os personagens em si.

A direção é de Jon Favreau (Homem de Ferro 1 e 2), que provê um trabalho extremamente digno. A câmera é muito bem manipulada, assim como todos os recursos que o diretor dispõe. O diretor consegue usar de efeitos como o "vertigo" para maximizar a experiência do espectador. Os momentos de tensão são muito bem construídos, assim como as cenas de ação são extremamente bem filmadas e coreografadas. Além disso, como Favreau usa, em boa parte do tempo, a câmera junto aos personagens, seja sob uma mesma altura, seja em primeira pessoa, ele cria um universo extremamente único. A câmera introduz o espectador naquele ambiente totalmente imersivo e importante. Outro fator que merece destaque em sua direção é a condução praticamente impecável da metragem. Toda cena tem um sentido de existir, assim como todos os personagens são importantes. E, tem mais, Favreau consegue fazer com que animais computadorizados falantes não pareçam ridículos ao conversarem entre si. O diretor consegue imprimir um tom sombrio que funciona perfeitamente. Trata-se de uma releitura do clássico que acrescenta à história, em vez de bajular o material original ao repetir os mesmos pontos. A fotografia do longa é belíssima; existem cenas de tirar o fôlego. Todo esse ambiente imersivo só é possível pelo belo trabalho de Favreau com sua equipe no quesito fotografia, visto que a diferença de cenário dentro da própria floresta é notável. Isso reforça a grandeza da floresta representada, assim como serve para conferir profundidade à narrativa.

Mogli é interpretado pelo garoto Neel Sethi. O menino teve um trabalho muito difícil: além de ser seu primeiro longa metragem, Sethi não contracena com ninguém do filme. Todos os animais presentes na história são feitos por computador. E esse é, infelizmente, o fator que impede o filme de ser perfeito. O ator mirim sente muito essa diferença e apresenta uma atuação limitada. Existem cenas extremamente forçadas e diálogos que soam estranhos ao ambiente pré-estabelecido pelo filme. Mesmo que o garoto seja fisicamente impressionante, tanto na desenvoltura física quanto na semelhança com o personagem, Neel Sethi não apresentou o peso emocional que engrandecesse o personagem. Apesar disso, a boa escrita de Justin Mark e o bom jogo de câmera de Favreau, deixam com que a jornada do herói não se prejudique com esse fator. Em contrapartida, o trabalho de dublagem do longa merece ser copiado várias e várias vezes. Mesmo contando com atores famosos, eles não demonstram preguiça, conseguindo prover diferencialidades no tom de voz a fim de que se pareçam mais com os personagens do filme. Dentre as principais vozes podem se citar Bill Murray, Idris Elba, Ben Kingsley, Scarlett Johansson, Lupita Nyong'o e Cristopher Walken. Todos apresentam excelentes momentos no filme, sendo até difícil reconhecê-los durante o longa. O grande trabalho de dublagem é aliado com o excelente trabalho visual do longa. Os efeitos especiais são perfeitos: por serem bem renderizados, além de realistas. Não existe sequer um efeito duvidoso, tudo inspira uma veracidade incrível. Se "As Aventuras de Pi" foi reverenciado pelo tigre e "O Regresso" pelo urso, que tal os dois e outros animais em um mesmo filme? É um trabalho que demonstra o poder tecnológico de Hollywood e justifica a refilmagem. "Mogli - O Menino Lobo" é um excelente reboot, por contar com um trabalho de dublagem impecável, visual impressionante e diretor inspirado.

Nota: 


- Demolidor

Crítica de "Asterix e o Domínio dos Deuses"

Se você é fã de histórias em quadrinhos, certamente conhece Asterix e Obelix. Criados por Albert Uderzo e René Goscinny no ano de 1959, os personagens são os protagonistas da obra francesa intitulada "Asterix" no Brasil. Tratam-se de histórias com o humor típico francês pautado no uso de estereótipos e caricaturas. A premissa acompanha um grupo de gauleses que vivem num pequeno vilarejo na época do Império Romano. Tal vilarejo é um dos poucos lugares que nunca foram ocupados pelos romanos, principalmente pelo fato dos habitantes tomarem uma poção que os confere super força. Obelix, porém, é uma exceção, pois, quando criança, mergulhou num caldeirão com a poção e ganhou o poder permanente. A premissa, em si, é muito simples. O que traz a qualidade por trás da obra é o desenvolvimento inteligente dos personagens, assim como as alusões que podem ser feitas com o contexto mundial da época. Por ser uma obra que tomou repercussão global, o mundo de Asterix já foi adaptado para o cinema algumas vezes, dentre animações e "live action". A mais famosa delas, provavelmente, é a protagonizada pelo astro francês Gérard Depardieu que, apesar de esdrúxula, é divertida. Em 2014, a França lançou sua nona animação de Obelix e companhia, todavia chegou ao Brasil somente em 2016.

O roteiro de Alexandre Astier e Louis Clichy é um ponto fraco da metragem. O fato dos personagens coadjuvantes não terem nenhum peso na história, concomitantemente com os protagonistas sem motivações plausíveis, tornam o filme extremamente sem sentido de existir. A história acaba da mesma forma que se inicia. Não existe um estudo detalhado de personagens, assim como o roteiro não é capaz de prover algo substancial a história. A sinopse do filme consiste no fato de que os romanos conseguem construir um conjunto de apartamentos denominado Domínio dos Deuses, em território gaulês. O plot se dá nos nativos buscando formas de expulsar os cidadãos de Roma do local. A estrutura narrativa, porém, é problemática. Se nos quadrinhos a visão estereotipada dos povos conferia humor, aqui demonstra falta de criatividade e até mesmo um certo preconceito. A unilateralidade de alguns personagens demonstra a falta do estudo das condições do persona. A figura de César, por exemplo, é extremamente sem vida, assim como todos os outros personagens romanos. Não existe nenhum vilão que seja memorável. A sessão acaba e o público apenas se lembrará de Asterix e Obelix. Mas, isso também não é por causa do filme; é por causa do peso cultural que esses personagens impõem. Se dependesse do filme, a dupla, se fosse lembrada, seria pela falta de carisma. E isso é muito sério, visto que a essência dos personagens está no apego ao público. Como não existe uma real importância de Asterix e Obelix, o espectador não nutre nenhuma empatia pela história e passa a se demonstrar indiferente aos acontecimentos. Isso torna o filme desinteressante, podendo ser extremamente cansativo em alguns momentos.

Entretanto, nem tudo são pedras. O filme apresenta algumas analogias extremamente importantes. O roteiro consegue fazer um estudo do capitalismo, através dos ideais de livre concorrência e lei da oferta e procura que inspiram uma ganância até mesmo num povo considerado "inocente". A escravidão também é muito bem retratada e algumas críticas sociais são bem explícitas. Como um escravo fugido teria as mesmas oportunidades que um homem livre? Se um escravo fosse livre, precisaria trabalhar para ganhar um dinheiro e sustentar sua casa (que já tinha quando escravo). Não seria essa mais uma forma de escravidão? Isso traz um tom mais sério ao filme que debate questões sociais importantes. Porém, o diretor Louis Clichy não consegue dar dinamicidade a essa trama. O longa apresenta oscilações de tom em demasia, o que dificulta a compreensão do público sobre a mensagem da obra. O diretor não sabe se explora o tom cômico em forma de ironia ou se trata algum assunto com seriedade. Essa mistura de propostas em um único filme diminui a interferência do diretor, visto que ele é responsável por conduzir o longa por um caminho sólido. Isso acarreta também uma montagem defeituosa, que apresenta cenas desnecessárias que beiram ao ridículo.

O visual merece destaque. A forma como os animadores conseguem misturar a essência das histórias em quadrinhos com as novas técnicas de animação é eficaz. Visualmente o filme consegue ser claro em suas ações, além de constituir uma ambientação plausível historicamente, ao mesmo tempo que impressiona pela beleza. A pena está no fato de que o resto não ajuda a engrandecer o trabalho animado. E não pense que isso é uma perseguição ao cinema europeu. Muito pelo contrário; por ser fã das histórias em quadrinhos, esperava muito mais do filme. Era necessário um estudo melhor dos personagens, assim como uma ideia mais criativa para a trama do longa. E, até agora não é claro, trata-se de uma comédia ou um filme emocionante? Não sei dizer. O filme apresenta claras oscilações de tom que tornam a experiência cinematográfica medíocre, assim como desperdiça o potencial de personagens excelentes.

Nota: 

- Demolidor

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Crítica de "Rua Cloverfield, 10"

J. J. Abrams é um cara que possui um faro inigualável para tramas envolventes. Vale ressaltar que o novo responsável por "Star Wars", também foi o criador da série "Lost". Apesar de seus problemas no final, a série é absurdamente importante para a história da televisão e da cultura pop em geral. Em 2008, Abrams produziu o filme "Cloverfield: Monstro". Recebeu críticas positivas, mesmo caindo no clichê de filmes "found footage", que seguiram o exemplo do clássico recente "Atividade Paranormal". Foi uma grande surpresa, então, quando "Rua Cloverfield, 10" pouco tempo atrás foi anunciado. A produção da metragem era sigilosa; não existiam trailers, teasers ou fotos dos sets. O mistério ao redor do filme era enorme, o que potencializou muito mais o rendimento final da obra. Como o espectador não foi obrigado a ser enxurrado por trailers grandiloquentes, o filme se apresentou como uma "novidade". Isso engrandece a experiência cinematográfica, pois ressalta o fator surpresa, essencial para o desenvolvimento da trama de um filme como este. Tal trama acompanha a personagem Michelle, que, após sofrer um acidente de carro, é mantida prisioneira por Howard. Este alega que o país está sofrendo um ataque químico/nuclear, mas a protagonista duvida de seus argumentos e decide investigar.

Por não ser uma sequência direta de "Cloverfield: Monstro", o filme apresenta certas liberdades dramáticas que dão dinâmica à trama. A única obrigação do longa atual é situar-se no mesmo universo que o antecessor; nada mais. Isso dá um espaço para os roteiristas Josh Campbell, Matthew Stuecken e Damien Chazelle ("Whiplash") trabalharem do jeito que quiserem. A escrita é um dos pontos fortes do filme. A forma como a protagonista é apresentada ao universo do bunker é fantástica. Não precisa-se de diálogos para compreendermos as emoções da personagem. Além disso, trata-se de uma personagem com uma carga dramática forte. Ela é a protagonista do filme, e, portanto, toma as decisões que fazem com que a trama se desenrole. E, a partir de seus erros e acertos, o espectador se vê identificado com Michelle. Trata-se de uma protagonista feminina extremamente cativante, dona de si e inventiva para a solução de problemas. Nesse quesito Michelle lembra muito a Tenente Ripley da franquia "Alien".  Aliás, a estrutura de roteiro é bem parecida. Em ambos os filmes o que importa é a tensão criada, o artifício da dúvida, e não a aparição de monstros computadorizados. "Rua Cloverfield, 10" acerta ao criar uma ambientação extremamente crível, além de eminentemente perigosa. O público nunca vê segurança nos atos de certos elementos do filme e existe sempre o questionamento do que se trata realmente o problema lá fora. E, mesmo não sendo longo, o roteiro toma seu tempo para ir, de pouco a pouco, evidenciando encaixes para a história. A trama pode não ser extremamente original ou revolucionária, mas é instigante e inteligente, conseguindo criar uma atmosfera favorável a um bom suspense.

Mas, o sucesso de um filme como esse depende de uma boa mão na direção. O responsável é o estreante Dan Trachtenberg. Os traços do produtor Abrams na direção são nítidos, porém Trachtenberg consegue conduzir bem todo o seu trabalho, principalmente nas cenas em lugares fechados. Mesmo não causando uma espécie de claustrofobia, a câmera consegue passar uma tensão inerente à trama, servindo como o espelho de um público angustiado. Todo esse trabalho é favorecido pelo jogo de iluminação que é bastante interessante, além da inserção da trilha sonora nos momentos propícios. Em relação à técnica cinematográfica, a mixagem e a edição de som merecem destaque. Um filme que possui uma boa sonoridade se apresenta de forma mais clara ao espectador, além de potencializar as emoções que o visual inspira. A fotografia tem um tom mais "pastel"; não chega a ser um ambiente escuro nem claro, trata-se de um meio termo. E essa oscilação tem total relação com a história, visto que ambos os lados são apresentados, porém, durante boa parte da metragem, não se tem um veredicto. E essa ambiguidade que o roteiro e o visual inspiram também pode ser identificada na complexidade do personagem Howard, intepretado por John Goodman. É um personagem esférico, cujas ações são imprevisíveis e que consegue ludibriar ao mesmo tempo o espectador e a protagonista. Esta que é interpretada por Mary Elizabeth Winstead. A atriz apresenta excelente caracterização dramática, além de seu porte físico ser extremamente coerente com a temática. Note que, mesmo sendo o alvo da ação em alguns momentos íntimos, a sensualidade da personagem nunca é explorada. Isso se deve ao fato de que a atriz consegue renegar esse seu lado em prol da história e promove uma imersão total no universo da Rua Cloverfield.

John Goodman apresenta uma das atuações mais brilhantes de sua carreira. Mesmo interpretando um personagem sério, o ator continua com o seu tom cômico de costume. Mas, ele provê algo além. Os olhares ameaçadores, a movimentação lenta do personagem, os diálogos ambíguos causadores de tensão são extremamente condizentes com a construção de sua persona. Nunca se sabe ao certo se ele é o herói ou se ele é o vilão. Seria ele um salvador ou um sequestrador? Essas são perguntas que só se tornam possíveis devido a uma boa estruturação de roteiro aliada a performances estupendas. Mas, infelizmente, o filme possui pequenos erros ao final. Configuram-se como erros, pois fogem da prerrogativa do filme. Ao tentar explicar certos acontecimentos, mais dúvidas foram criadas. O final não é ruim em si, ele até demonstra o desenvolvimento completo do arco da protagonista, mas falta o elemento que tornaria o filme memorável. Falta um "gran finale". "Rua Cloverfield, 10" é bem feito tecnicamente, apresenta um roteiro funcional e a atuação de John Goodman se destaca; fatores que tornam o filme um excelente suspense.

Nota: 


- Demolidor

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Crítica de "Para Minha Amada Morta"

O cinema brasileiro de gênero é algo raro nos cinemas comerciais. Isso é uma pena. Enquanto comédias da Globo lotam as salas de cinema em shoppings por todo o país, filmes que se preocupam com a sétima arte em si são restritos aos ditos "cinemas alternativos". Como consequência, tem-se o discurso: "O cinema brasileiro é ruim". Isso é uma falácia enorme, visto que é o cinema comercial brasileiro que é ruim. Devido a falta de investimento nas produções independentes, a maior parte das coisas que se vê é voltada para o acúmulo de dinheiro, através da divulgação de atores globais e piadas esdrúxulas. Mas, para aqueles que se interessam realmente por essa arte e desejam mensurar a qualidade do cinema nacional, vale a pena procurar a fundo em salas perdidas pela cidade. "Para Minha Amada Mortal" é um clássico exemplo disso. Não apresentou muita divulgação, nem está sendo exibido em muitas salas pelo Brasil. E, independente da opinião de cada um sobre a estrutura do roteiro, é unânime a qualidade da fotografia e da direção. O filme em si é bem feito. Acompanha a história de Fernando que descobre que sua mulher, já morta, o traía em vida. A partir daí, o homem busca conhecer os detalhes da traição e chega até a casa de Salvador.

O longa é escrito e dirigido pelo paranaense Aly Muritiba. Trata-se de uma escrita não muito inventiva quanto a trama, visto que é uma típica história de vingança. Todavia, o filme tem um quê sombrio e perturbador que instiga muito o espectador. Os planos são demasiadamente longos e sem muita movimentação de câmera. Isso promove uma dúvida enorme sobre o que vai acontecer, pois o personagem desde o início demonstra suas mudanças depois da descoberta. Nesse quesito, o roteiro acerta muito. O arco dramático do protagonista é muito conciso, apresentando todos os elementos necessários para um início, um desenvolvimento e uma conclusão bem feitos. O final pode não ser muito condizente com o tom que o filme apresenta durante a metragem, porém cumpre perfeitamente com a jornada do personagem. Este é interpretado por Fernando Alves Pinto que se mostra um excelente ator, através de pequenos gestos e expressões que põem em cheque o conceito que o público tinha da moral de seu protagonista. É visível como o personagem é o herói da história, mas parece, a todo o momento, que vai fazer algo ruim. Por isso, torcemos para ele ao mesmo tempo que não. Essa característica esférica do personagem só é possível devido ao excelente trabalho do ator. Abaixo dele está Lourinelson Vladimir. Este apresenta uma atuação sólida, mas peca em alguns aspectos. Uma exagerada gestual aqui, outra ali, mas nada que comprometa a veracidade de seu personagem. Os conflitos por quais passa são bem expressos em tela.

Os elementos visuais do filme impressionam. O início é muito inteligente: somente através de fotos, objetos e vídeos sentimos o peso da saudade de uma mulher querida. Além disso, a paleta pálida inicial remete a um ambiente sem vida e sem propósito. Tal paleta só viria a mudar no momento da descoberta da traição, onde os planos escurecem e a iluminação promove um jogo de sombras interessante. E esse ambiente mais sombrio acompanha o filme inteiro, ajudando a potencializar a tensão proposta pela premissa. O filme passa-se numa espécie de subúrbio, portanto pode ser caracterizado como um drama suburbano. Isso possibilita um excelente trabalho do diretor de fotografia, visto que os planos abertos são muito limpos e a qualidade da imagem impressiona. No quesito visual/técnico o longa lembra muito o excelente "O Lobo Atrás da Porta", outro drama suburbano. Seria este um novo gênero em ascensão no cinema nacional? A trilha sonora do longa é imponente: não existe nenhuma melodia suave, apenas sons barulhentos que ajudam a (mais uma vez) aumentar a tensão.

Como já dito, o filme é extremamente tenso. Trata-se de uma mistura de elementos como a direção, roteiro e trilha sonora que criam esse clima, de certo modo, claustrofóbico. Durante todos os aproximados 100 minutos de metragem, o público se vê refém da trama. Isso é um ponto positivo do filme, que o torna digno de ser assistido.  Depois de todo aquele clima bem criado, pode-se dizer que o final é um pouco decepcionante, por não entregar algo que propôs durante o filme inteiro. Tudo bem que trata-se de uma conclusão condizente com os arcos dos personagens e apresenta algumas coisas a serem pensadas, mas faltou algo a mais. Aliás, esse fator pensante do filme é muito interessante. Nem tudo é entregue de graça, muitas coisas o espectador é obrigado a deduzir. Isso demonstra um respeito muito grande ao público e engrandece a experiência cinematográfica. "Para Minha Amada Morta" é um filme que merece ser visto por sua limpeza visual e por seus elementos cinematográficos capazes de construir um ambiente tenso, mostrando que o cinema nacional também é forte em dramas suburbanos.

Nota: 



- Demolidor