segunda-feira, 28 de março de 2016

Crítica de "Zootopia: Essa Cidade é o Bicho"

Walt Disney Pictures. Não importa se você tem 10, 20 ou 100 anos. Em algum momento de sua infância você foi encantado por algum filme da Disney. Para se ter uma noção, o primordial "Branca de Neve e os Sete Anões" é de 1937. De lá pra cá, a produtora foi responsável por diversos clássicos do gênero. Recentemente, porém, pela parceria com a Pixar, o selo sozinho da Disney perdeu um pouco sua força. Enquanto "Toy Story" recebia elogios, "O Galinho Chicken Little" era detonado. Contudo, a Disney vem passando por uma reformulação interessante nos seus projetos. Isso se deve muito à mão de John Lasseter (diretor de Toy Story), produtor executivo dos novos filmes. O primeiro e já clássico recente foi "Frozen". Além de ser aclamado pela crítica, o filme conquistou uma legião de fãs pelo mundo inteiro. Um ano depois chegou aos cinemas "Operação Big Hero": uma tentativa certeira da Disney de aproveitar o universo Marvel do cinema. É nesse panorama ascendente que "Zootopia" se insere. Podendo ser um dos filmes mais originais do estúdio, "Zootopia" acompanha a coelhinha Judy Hopps, fazendeira de uma pequena cidade que sonha em ser uma policial na cidade de Zootopia. Chegando lá, a coelha precisa fazer uma parceria com a raposa Nick Wilde, para solucionar um crime que pode salvar sua carreira.

O roteiro, escrito por 7 escritores diferentes, é um dos pontos fortes do filme. Primeiramente, deve-se falar do universo criado para o longa. A personificação de animais é clichê, mas o modo como esses animais se comportam em sociedade é transmitido às telonas de uma forma brilhante, extraindo até mesmo humor dessa imersão. Existem piadas relacionadas às características instintivas dos animais: a necessidade dos lobos de uivar, por exemplo. Ou até mesmo (essa é a melhor parte do filme) o fato de bichos-preguiça serem responsáveis por tarefas de preenchimento de documentos. O contraste da necessidade de agilidade com o fator biológico desses animais serem "lentos" promove uma das cenas mais engraçadas do ano. A relação antagonista entre a coelha e a raposa também é muito bem explorada. A maioria dos filmes da Disney explora uma relação dicotômica como essa, porém aqui, isso se faz mais necessário, visto que na cadeia alimentar a raposa é predadora do coelho. Portanto, ao mesmo tempo que a oficial Hopps precisa confiar em Nick, não o pode fazer por completo, devido ao fator natural. E isso é pano de fundo para uma grande crítica social.

Pensando por esse lado, "Zootopia" se configura como uma fábula moderna sobre poder, golpe, além de exemplificar as desigualdades sociais vigentes na sociedade através da impotência de alguns animais. Porém, a construção da protagonista é a lição de moral que mais faz jus a esse igualitarismo implícito no roteiro. Trata-se de uma personagem com pouca força física comparada aos outros, mas que se destaca devido a sua astúcia e mostra que, dependendo da sua vontade, você pode alcançar seus objetivos. Apesar de ser um ideal utópico demais, é importante para os dias atuais. O filme questiona até mesmo os padrões éticos dos governantes de Zootopia, e isso serve para criticar muitos sistemas onde o político se importa mais com seus interesses pessoais do que com os públicos. Além disso, como a personagem principal é feminina, isso reforça a igualdade de gêneros tão discutida atualmente e mostra que, mesmo em um território comandado por homens (como é o da polícia de Zootopia), as mulheres podem fazer a diferença. Dessa forma, a protagonista representa não só as mulheres, como todas as minorias subjugadas na sociedade. E isso tudo num filme de animação da Disney. É interessante ver a preocupação social do estúdio ao debater tais temas.

A direção de Byron Howard e Rich Moore funciona bastante. Apesar de ser um filme que preza muito mais pelo roteiro, existem cenas de ação muito bem acabadas. Pode-se dizer que o filme é completo no gênero policial: fato reforçado pela qualidade dos diretores em dar uma clareza ao que está acontecendo em tela. Além disso, a trama consegue ser instigante a ponto de deixar o espectador em dúvida sobre o que acontecerá em seguida. O filme apresenta referências ao universo Disney (Big Hero e Frozen são citados), o que dá a ideia de um possível universo conjunto. Mas, melhor do que isso, o filme reverencia clássicos como "Rocky" e "O Poderoso Chefão", além do importante seriado "Breaking Bad". A montagem do longa é perfeita, visto que tem a quantidade de minutos necessária para contar uma boa história. "Zootopia" pode ser visto como uma fábula moderna que trata da vida em sociedade, ao mesmo tempo que se caracteriza como um bom filme policial, que, através da força de sua protagonista, reforça o papel das minorias. Mais completo impossível.

Nota: 

- Demolidor

domingo, 27 de março de 2016

Crítica de "Kung Fu Panda 3"

Em 2008 chegava aos cinemas a animação "Kung Fu Panda". Contando com um protagonista caricato e desajustado, o longa introduziu toda uma mitologia relacionada às artes marciais na China, sob a forma de animais mestres do kung fu. Iniciou-se então uma das mais rentáveis franquias de animação da Dream Works (ao lado de Shrek), que, em 2016, chega a seu terceiro filme. A fórmula é a mesma: crise de identidade do protagonista, a jornada do herói completa, a aparição de uma ameça e a solução do problema. Dessa vez, o filme acompanha a descoberta da família de pandas de Po e como o protagonista precisa virar um mestre do kung fu. No meio disso, surge uma ameça grandiosa que faz com que o herói prove sua grandiosidade. Essa história, por ser deveras clichê, tem seus pontos positivos e negativos. Por um lado, o desenvolvimento do vilão e suas motivações são muito rasos. Não se vê uma grande veracidade nas ações e o roteiro não é brilhante a ponto de estabelecer novos padrões de narrativa. Mas, por outro, o desenvolvimento da jornada de Po é perfeito. O panda passa por todas as provações necessárias a um herói e o roteiro consegue dar uma linearidade essencial a esse desenvolvimento. Um ponto que ajuda nisso tudo é o humor leve que o filme inspira e que está espalhado por diversos personagens. Não existe um centro cômico, o que retira a ameça de piadas previsíveis.

Tal roteiro é escrito por Jonathan Aibel e Gleen Berger. Por se tratar de uma continuação de uma franquia já querida, os roteiristas tiveram a oportunidade de ampliar o universo em que a história se passa. O misticismo relacionado ao kung fu, o acréscimo de personagens relevantes e a apresentação de um universo coeso engrandecem muito a história. Além disso, o relacionamento entre a comunidade dos pandas é muito harmonioso e emana um clima agradável ao espectador. Normalmente, filmes de animação têm como público alvo as crianças. Portanto, faz-se necessário uma mensagem por trás que seja inspiradora para o público mais jovem. "Kung Fu Panda 3" apresenta um ensinamento extremamente importante: todos nós aprendemos a todo o instante e o conhecimento só se faz completo através da comunicação com o outro. O filme consegue desenvolver, em seu roteiro, a desconstrução de um egocentrismo e, ao mesmo tempo, implantar ideais que sugerem um mundo mais igualitário. Mas, mesmo com tais reflexões morais, o roteiro consegue entregar mais. Reflexões metafísicas são pontos chave no filme e a leveza como são abordadas impressionam. Os roteiristas conseguem, através de metáforas, demonstrar imparcialidade quanto a religiosidade, mas é visível como símbolos míticos como o "Yin Yang" estão presentes na história.

As metáforas não estão somente no roteiro. Estão também na direção de Alessandro Carloni e Jennifer Yuh. Existem cenas que lembram muito a pegada existencialista de Terrence Malik. Além disso, a paleta de cores usada nessas cenas são essenciais para uma limpeza e que corresponde à mensagem transmitida. A qualidade da animação é indiscutível; os traços caricatos aliados a uma espécie de personificação dos personagens permanece aqui. Mas, os níveis de detalhes nas expressões faciais, por exemplo, estão cada vez maiores. A trilha sonora começa a se fazer memorável, depois de três filmes da franquia. Se Sherk decepcionou a partir do terceiro longa, o panda Po ainda não o faz. É incrível como o tom de filme nunca varia e, mesmo com histórias não tão mirabolantes, os filmes de Kung Fu Panda se mantêm íntegros. É a aliança de uma boa ideia com o foco nas coisas importantes: a relação entre pai e filho, a exaltação de uma arte marcial que vem sendo difamada depois do fenômeno das lutas televisionadas, a preocupação com a natureza, a apresentação de uma paisagem natural exuberante aliada a elementos culturais/históricos da China, a criação de um universo familiar, além das questões morais/filosóficas que o filme inspira.

Pode-se dizer que Po é um dos personagens mais importantes atualmente. No primeiro filme, descobrimos que mesmo um ser taxado como inútil e desastrado pode se sair bem naquilo que tem vocação. E isso, no fundo, era o que realmente importava no filme. Aqui, mesmo que o desenvolvimento de certas estruturas de roteiro seja defeituoso, a mensagem principal é transmitida com perfeição. Portanto, "Kung Fu Panda 3" apesar de não prover uma história original, aborda questões morais e metafísicas interessantes, além de apresentar alívios cômicos certeiros e uma expansão coesa do universo da franquia.

Nota: 


- Demolidor

quinta-feira, 24 de março de 2016

Crítica de "Batman vs Superman: A Origem da Justiça"

Superman e Batman. Símbolos da hegemonia cultural norte-americana sobre todo o mundo globalizado. Possivelmente, os dois super heróis mais conhecidos pela população mundial. E, finalmente, os dois se encontram nas telonas do cinema. Pela primeira vez, um filme da DC apresenta diferentes heróis em um só filme (vale lembrar que a Mulher Maravilha também está presente). O filme (supostamente) é baseado na HQ "O Cavaleiro das Trevas", mas vê-se uma discrepância enorme entre as obras, tanto em relação à conteúdo quanto à linguagem. Aqui, a reunião dos heróis se faz necessária para a criação de um "multiverso" DC Comics, ilustrando a tentativa clara da Warner de bater de frente com a já consolidada Dinsey/Marvel. Mas, será que a detentora dos super heróis mais poderosos já criados correspondeu a altura? O filme é uma sequência direta de "O Homem de Aço" e mostra, em suas cenas iniciais, a destruição de Metrópolis sob o ponto de vista de Bruce Wayne. A trama do filme gira em torna da pergunta: Superman é um herói ou uma ameaça?

Trata-se de uma premissa boa, pois pode explorar um lado político/ideológico capaz de engrandecer a obra. Mas, tal argumento mostra-se extremamente inválido devido ao fato de que o roteiro não se preocupa com desenvolvimento de conflitos. É muito tempo gasto em combates físicos, romances clichês, que o espectador se vê até mesmo entediado. A história central não apresenta força suficiente para se sustentar sozinha e, devido a oscilações narrativas, colapsa no final, com uma quantidade absurda de furos no roteiro. Algumas situações simplesmente não apresentam explicação plausível e o roteiro não se preocupa em apresentar qualquer argumento. Talvez a necessidade do estúdio de apresentar um universo compartilhado bem definido limitou muito o poder de criação dos roteiristas David Goyer (trilogia "O Cavaleiro das Trevas") e Chris Terrio ("Argo"). Mas, mesmo tal universo não é muito bem explorado. O novo Batman não apresenta nada de inovador ao personagem e se mostra muito aquém do personagem dos filmes do Nolan. A Mulher Maravilha é extremamente subaproveitada e seu desenvolvimento é raso (tudo bem que o filme solo já foi anunciado para o ano que vem, mas não custava nada dar ALGUMA profundidade à personagem).

A direção é de Zack Snyder. Trata-se de um diretor bem estiloso, que mostrou bom trabalho em "300" e "Watchmen", destacando-se pelo uso constante de câmera lenta e muito sangue. A censura do filme limita um pouco o último quesito (no Brasil, a classificação é indicativa é de 12 anos). Mesmo que a violência esteja presente, ela é muito irreal, por não ser explícita. Além disso, o diretor de "Batman vs Superman" não é o Zack Snyder que conhecemos. Sua ousadia em planos de câmera lenta e a astúcia para combates corpo a corpo são inexistentes. O trabalho de direção é extremamente convencional, para não dizer ruim. Existem muitas cenas demasiadamente longas, enquanto outras apresentam cortes demais. O espectador é inundado com um festival de "flares" e luzes que dão dor de cabeça e a movimentação de câmera é extremamente artificial. A cena principal de luta lembra muito as "cut scenes" do jogo "Injustice". Isso é uma grande crítica, pois distancia cada vez mais o público da veracidade daquele universo. É triste se deparar com tamanha decepção, um mês depois da grata surpresa "Deadpool". A Marvel que há muito domina o mercado, precisa se preocupar com a própria Marvel em outros estúdios. Parece que a DC não sabe ainda para o que veio.

 Henry Cavill retorna bem como o Filho de Krypton, apresentando um amadurecimento do personagem. Gal Gadot, com o pouco tempo que lhe é dado, demonstra ser uma atriz com potencial para apresentar a imponência da Rainha das Amazonas. Já Ben Alffeck... Talvez uma das contratações mais rechaçadas pelos fãs devido a sua pífia atuação no filme solo do "Demolidor". Aqui, Affleck apresenta evolução, mas não é o retrato verdadeiro do Batman. Michael Keaton nos filmes de Tim Burton apresentava um charme único que combinava com o personagem, enquanto Christian Bale apelava para a carga emocional. Ben Affleck não apresenta nenhuma característica em sua atuação que mereça ser destacada. Apesar de não ser uma atuação ruim, esperava-se mais. Afinal, estamos falando do Batman, um dos personagens mais importantes da história dos quadrinhos. Mas, com certeza, o ponto mais exagerado do longa é Jesse Eisenberg como Lex Luthor. O ator apresenta uma espécie de Mark Zuckerberg misturado com o Coringa de Heath Ledger. Trata-se de um desenvolvimento extremamente caricato e superficial, pautado em maneirismos e clichês de um vilão megalomaníaco.

Um ponto que estragou muito a experiência cinematográfica foi a divulgação em demasia da história. Os dois trailers principais fazem um resumo perfeito do filme inteiro. Mas, a função do trailer não é ser um resumo, mas sim um fator que instigue o espectador a assistir ao filme. Pontos de virada da história foram mostrados no trailer e estragaram totalmente a surpresa na sala de cinema. Provavelmente, os executivos da Warner não acompanharam o processo de divulgação do novo "Star Wars" ou até mesmo do já citado "Deadpool". A trilha sonora do filme é defeituosa, emitindo melodias dissonantes extremamente desnecessárias. Percebe-se a falta de um tema musical grandioso capaz de ser a altura da trilha do filme de 78 do Superman. A trilha de Hans Zimmer só funciona quando a música já presente no primeiro filme retorna. Não é um tema brilhante, mas cumpre seu papel. Por incrível que pareça, o bom "O Homem de Aço" é infinitivamente mais completo que seu sucessor, mesmo se tratando de uma história de origem. O encontro dos dois heróis mais importantes do mundo é marcado por roteiro furado, direção cansativa e elementos cinematográficos que colocarão "Batman vs Superman" em esquecimento.

Nota 


- Demolidor

sexta-feira, 11 de março de 2016

Crítica de "A Bruxa"

Filmes de terror são extremamente controversos. É muito difícil analisar uma película do gênero como mediana: é 8 ou 80, muito bom ou ridiculamente deplorável. Infelizmente, o cinema americano ultimamente tem apostado em continuações de franquias do gênero, sem experimentações com a linguagem e até mesmo sem desenvolvimento de narrativa coeso. E é por isso que o gênero passou a ser um pouco subjugado pela crítica e pelo público em geral, passando a ser identificado como filme de tipo B. Mas, como todo gênero pode ter sua volta por cima, o terror contemporâneo apresenta vértices que ainda dão esperança para um futuro melhor. Um grande exemplo é o filme "Invocação do Mal" que consegue construir a tensão de forma excelente e prende a atenção do espectador. E, em 2016, "A Bruxa" chega aos cinemas brasileiros com propostas simples, mas originais e extremamente bem encaixadas na história.

Do original "The Witch - A New-England Folktale", o filme acompanha uma família protestante na Nova Inglaterra de 1630 que é expulsa da colônia e se muda para uma fazenda isolada. Lá, eventos sobrenaturais de bruxaria e possessão tomam parte e poem em cheque o bem estar da família. O roteiro é uma das melhores partes do filme. Robert Eggers consegue produzir um texto extremamente cativante e bem construído. A relação entre os personagens é forte e as características individuais de cada um são transmitidas com clareza. Além disso, o roteirista aproveita muito do viés religioso, que era de suma importância na época, para atribuir aos acontecimentos passagens da Bíblia, como Adão e Eva e retratar o medo da população perante a ira de Deus. Outro fator muito bem utilizado foi o histórico, visto que na época, quem não era católico era considerado feiticeiro (herege). E o paralelo realizado é genial, pois uma família protestante sofre eventos de bruxaria. E o melhor de tudo: a história é baseada em contos feitos na época. Portanto, trata-se de um excelente retrato de época, pois demonstra a mentalidade extremamente religiosa da população. Mas, a qualidade vai além disso. A tensão cresce gradativamente de acordo com o andamento do longa e as cenas são realmente imprevisíveis. Personagens que pareciam, em um primeiro olhar, planos mostram-se esféricos e o longa toma caminhos alternativos que engrandecem a história. Um filme de terror que trate de bruxaria não é algo incomum, mas "A Bruxa" tem sua originalidade na forma de conduzir a história.

Porém, toda a tensão não existiria sem um bom trabalho técnico. O diretor Robert Eggers faz um trabalho extremamente digno, com uma câmera nervosa e que se movimenta lentamente, de forma paradoxal ao roteiro do longa. Trata-se de uma técnica muito bem utilizada, pois eleva a apreensão do espectador. Além disso, a trilha sonora merece destaque pelos temas ecléticos. É impressionante a quantidade de melodias diferentes existentes na metragem e como cada uma se relaciona bem com o momento do filme. O diretor consegue aliar seu trabalho manual com o trabalho sonoro (mixagem e edição de som) para maximizar a experiência cinematográfica. Sim, terror também é arte. Outro fator decisivo para a qualidade da obra é o design de produção e a paleta de cores. É visível como tudo no início é claro e bem ambientado, e como no decorrer da trama as cores vão perdendo vida e a escuridão vai prevalecendo. A iluminação usada reforça essa ideia, assim como os planos utilizados pelo diretor. Nota-se um simbolismo extremamente forte ao focar em um coelho ou em uma maçã, por exemplo.

Aliás, o simbolismo do filme também é um ponto forte, pois deixa coisas implícitas no roteiro. A história não é contada de forma "mastigadinha", existe um zelo em respeitar o público e acrescentar nas entrelinhas elementos que engradecem o longa. O uso de "jump-scares" é um dos maiores clichês do cinema de terror atual. Tratam-se daqueles famosos sustos que vêm do nada e são irrelevantes para a história. "A Bruxa" se destaca por não apresentar nenhum desses, reforçando a qualidade da produção. O medo que o espectador sente é construído desde a primeira cena, de acordo com os elementos cinematográficos usados nos momentos certos. E, esse configura-se o maior mérito do filme: ser assustador, mesmo sem dar sustos. Pode-se dizer que trata-se de um terror psicológico de primeira linha. Um ponto inusitado do longa é o elenco. Durante a sessão, o trabalho dos atores não é muito notado. E, aqui, isso faz sentido. Todos os atores apresentam um elevado nível de atuação, mas não existem disparidades entre eles. Parece que todos realmente encarnaram aquele universo e deram uma atuação muito equiparada. Evidentemente existem algumas cenas que reforçam a qualidade individual de cada um, mas o todo é o que prevalece. "A Bruxa" é um excelente retrato histórico que subverte o gênero de terror, apresentando experimentações com a linguagem cinematográfica que tornam o longa extremamente original (e assustador).

Nota: 

- Demolidor