quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Crítica de "Ida"

Polônia. Quando cita-se esse país é inevitável que a memória mais forte situa-se num dos períodos mais conturbados da história mundial: a Segunda Guerra Mundial. A Polônia foi o primeiro país a ser dominado pelos nazistas e lá viviam muitos judeus. A Polônia então foi alvo de muitos massacres à sua população, cicatrizes que ainda ardem nos dias atuais. Então, o que seria conveniente para um diretor polonês contar a história de seu país? Bem, a resposta que provavelmente muitos dariam seria um drama de guerra, que contasse realmente os acontecimentos que ocorreram naquele lugar. "Ida", porém, vai muito além disso. Em vez de tomar essa decisão clichê, o filme conta um drama atual, mas fortemente ligado com o passado. Acompanha a freira Ida (Agata Trzebuchowska) e sua tia Wanda (Agata Kuleska) em busca de respostas pessoais. Ida descobre que seus pais eram judeus através da tia, e ambas embarcam numa jornada em busca da família.

Talvez o grande acerto do filme seja a relação entre as duas protagonistas. Como uma freira extremamente católica prestes a fazer seus votos reagiria sabendo que seus pais eram judeus? O que torna a relação das duas tão interessante é que acompanhamos desde o momento em que as duas se conhecem.É perceptível o choque que as personagens causam uma na outra. Os conflitos entre elas são excelentes, muito bem escritos. Esses conflitos fazem pensar que trata-se de uma luta entre o bem e o mal, o que é certo e errado. Mas, o filme com uma sutileza do roteiro mostra que não existe nada disso. Mesmo a freira "quase santa" pode ceder a atitudes consideradas erradas e mesmo a juíza que cede facilmente a desejos carnais pode realizar alguma ação boa. No final, percebemos que apesar de serem tão diferentes, as personagens se complementam e são essenciais uma para a outra durante a história.

O roteiro talvez não possa ser considerado muito bom. A história em si é bem monótona e o espectador não se apega aos acontecimentos.É uma mistura de drama com road movie.A história em si não prende a atenção do público. O que realmente salva é a relação entre as personagens, que nos fazem refletir sobre a nossa própria vida. A atriz que interpreta Ida está em seu primeiro papel cinematográfico. É um papel bom, eficiente, mas que não merece destaque. Enquanto isso, a atriz da tia Wanda está excelente. A emoção passada por suas expressões faciais são claramente convincentes e o desenvolvimento que ela dá para a personagem é excelente. A direção do filme é de Pawel Pawlikowski. Ele usa em todas as cenas a câmera parada. Em nenhum momento do filme a câmera acompanha a movimentação dos personagens. Isso limita um pouco a área de atuação dos atores, mas a escolha consegue ser acertada devido à simetria presente. Os planos que o diretor usa, na maior parte das vezes, usa dum eixo simétrico para dividir a tela ao meio em duas partes iguais. Isso causa uma beleza insubstituível ao longa, ainda mais por este ter sido rodado em preto e branco. Aliás, a direção lembra muito os filmes antigos em preto e branco, onde a câmera permanecia sempre estática.

A montagem do filme é muito bem feita. As cenas têm exatamente a duração necessária. O filme dura apenas 80 minutos, mas é mais do que o suficiente. O roteiro infelizmente não é cativante e por isso o filme perde um pouco nesse quesito. Porém, devido a boas atuações, uma direção referencial e conflitos extremamente bem trabalhados o filme torna-se assistível e essencial para fãs de cinema europeu.

Nota: 

- Demolidor

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