quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Crítica de "O Jogo da Imitação"

Se está na moda cinebiografias dramáticas, eis mais uma. Associada ainda com o tema Segunda Guerra Mundial? Teria tema mais clichê? Quem fez essa pergunta se surpreendeu ao conhecer o filme "O Jogo da Imitação". O filme conta a história de Alan Turing (Benedict Cumberbatch), o gênio matemático que descobriu o código nazista usado na máquina Enigma. Essa descoberta, segundo os historiadores,encurtou a Guerra por dois anos, salvado 14 milhões de vidas.Trata-se de um dos maiores heróis de guerra da história mundial! E você provavelmente nunca ouviu falar em Turing. Isso tudo porque essa brilhante e emocionante trajetória foi mantida em sigilo por mais de 50 anos. Muito tempo depois de falecido é que a história de Turing veio a tona. Primeiro no livro de Andrew Hodges e agora nas grandes telonas.

O roteiro é de Graham Moore. Trata-se de um roteiro brilhante. O roteirista consegue apresentar os fatos reais de uma forma bastante dinâmica. Provavelmente os fatos reais demoraram para se desenvolver, com grandes intervalos entre grandes acontecimentos. No filme,os personagens possuem relações interessantíssimas. O círculo de pessoas em volta da descoberta do código está em constante conflito e o roteiro cria uma tensão entre os personagens primorosa. Além disso, a personalidade de Alan Turing é muito bem apresentada. Existe um outro lado de Turing que o filme apresenta bem: seu lado homossexual. E o filme apresenta esse lado de uma forma tão sutil que não nos surpreende. E mais: o roteiro consegue criticar a sociedade homofóbica da época por meio de diálogos e reações dos personagens.Além disso constrói toda a personalidade de Turing por meio de acontecimentos de sua vida (o filme passa-se em tres momentos distintos da vida do matemático). O roteiro tem o mérito, portanto, de dar um ritmo agradável ao filme, prendendo a atenção do espectador e criando um vínculo com os personagens.

A direção é de Morten Tyldum. Ele apresenta uma direção muito consciente. Sem apresentar enormes tomadas e planos sequências devastadores, o diretor mostra-se preocupado com acompanhar o roteiro. Com a câmera na maior parte do tempo na mesma altura dos personagens, a câmera se torna apenas uma observadora. E não precisava ser mais que isso. Devido a fascinante história, a câmera não precisava de inovaçôes, apenas acompanhar a história seria suficiente. Aliás, a direção se mostra preocupada com os atores e extrai ao máximo seus potenciais artísiticos. O elenco torna-se assim excelente. Benedict Cumberbatch (que está numa crescente de sucesso) conduz muito bem o filme. Sua atuação é metódica e desafiadora. Aliás existem alguns momentos do filme que sua atuação lembra seu próprio Sherlock da série da BBC. Mas é nesse filme que Cumberbatch prova seu verdadeiro valor artístico nas cenas de emoção, principalmente. O elenco de apoio também está muito bom, destaque para Keira Knightley e Charles Dance.

O filme precisa ser visto, não somente por tratar-se de uma excelente obra cinematográfica, mas por apresentar a história de um verdadeiro herói desconhecido. Não sei se essa forte campanha do Oscar conseguirá enaltecer o valor do filme, e se não o fizer será uma pena. "O Jogo da Imitação" é a perfeita combinação entre uma história real imprescindível e um filme bem feito com roteiro e atores fantásticos.

Nota: 


- Demolidor

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