quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Crítica de "A Garota Dinamarquesa"


          Filmes que retratam momentos passados são constantemente realizados pela indústria cinematográfica de Hollywood. Ainda mais quando se trata de acontecimentos relevantes para a sociedade atual. Lembrando muito a temática do ótimo "O Jogo da Imitação", "A Garota Dinamarquesa" chega aos cinemas brasileiros com uma história de identidade e descobertas. O filme acompanha a vida do pintor Einar (Eddie Redmayne), que descobre-se mulher e é o primeiro indivíduo a realizar a operação de transgênero. Durante todo esse processo, o pintor é acompanhado por sua esposa Gerda (Alicia Vikander).


Tal projeto ficou nas mãos de Tom Hooper, conhecido por dirigir o drama do rei gago "O Discurso do Rei" e pela adaptação em musical do fenômeno "Os Miseráveis". Aqui, como nas obras citadas, o diretor provê um excelente trabalho de ambientação. A aliança entre um design de produção bem feito e o uso de cenários condizentes reforçam a época em que o filme se passa. Dessa forma, pode-se considerar um bom retrato de época, mesmo que seja "glamourizado" demais. O grande problema do diretor é quando apresenta a câmera em mãos. Trata-se de uma direção muito estática, cuja câmera não flui de acordo com a movimentação dos atores em cena. Ao realizar um trabalho tão competente de ambientação, a obrigação do diretor era passear por aquele cenário, provocando uma espécie de imersão. Porém, aqui, a câmera é extremamente fria e distante, o que prejudica demais a qualidade do filme. Ao final, tem-se a impressão de que estamos assistindo uma novela da Globo, principalmente pela comodidade de Hooper.

O roteiro é de Lucinda Coxon, adaptado do livro de David Ebershoff. É um ponto muito oscilante, pois não consegue apresentar um tom único durante toda a metragem. O desenvolvimento do protagonista até que é bem feito, seus momentos de descoberta são extremamente íntimos, porém a relação entre Einar e Gerda é um pouco superficial. Isso se deve muito ao superestimado Eddie Redmayne que apresenta uma atuação, no mínimo, decepcionante. O ator realizou um ótimo trabalho em "A Teoria de Tudo", mas no filme atual Redmayne apresenta um trabalho extremamente forçado. O excesso de maneirismos e trejeitos do ator prejudicam demais a veracidade da obra, visto que o apego com a história é cada vez menor. Além disso, o roteiro é extremamente monótono em alguns pontos e não dá a relevância necessária a outros. Porém, a única coisa que salva a roteirista, é a apresentação de ideias importantes, como a homofobia e o machismo. Mas, mesmo assim, nas mãos de roteiristas mais experientes, esses temas seriam muito mais alardados e impactantes.

A trilha sonora é melosa demais e extremamente repetitiva. Ela é introduzida em momentos inoportunos e não acrescenta nada em relação a arte do filme. A única coisa realmente boa é a atuação de Alicia Vinkader. Ela consegue ofuscar todos ao seu redor, apresentando um trabalho extremamente maduro e confiante. A grande decepção está no potencial da história e a forma gritante de piora, tanto na direção quanto na atuação de Redmayne. Podemos fazer uma analogia do filme com o recente "Carol", por exemplo. Contudo, a direção de Todd Haynes é infinitamente superior, a dupla de atrizes não apresenta falhas e, mesmo não fazendo criticas importantes, o roteiro consegue ser agradável. "A Garota Dinamarquesa" é um filme lento, desinteressante, com uma série de problemas relacionados a cinematografia, roteiro e elenco. Um assunto tão importante merecia uma obra com maior qualidade artística.

Nota: 

- Demolidor

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