Tal roteiro é escrito por Jonathan Aibel e Gleen Berger. Por se tratar de uma continuação de uma franquia já querida, os roteiristas tiveram a oportunidade de ampliar o universo em que a história se passa. O misticismo relacionado ao kung fu, o acréscimo de personagens relevantes e a apresentação de um universo coeso engrandecem muito a história. Além disso, o relacionamento entre a comunidade dos pandas é muito harmonioso e emana um clima agradável ao espectador. Normalmente, filmes de animação têm como público alvo as crianças. Portanto, faz-se necessário uma mensagem por trás que seja inspiradora para o público mais jovem. "Kung Fu Panda 3" apresenta um ensinamento extremamente importante: todos nós aprendemos a todo o instante e o conhecimento só se faz completo através da comunicação com o outro. O filme consegue desenvolver, em seu roteiro, a desconstrução de um egocentrismo e, ao mesmo tempo, implantar ideais que sugerem um mundo mais igualitário. Mas, mesmo com tais reflexões morais, o roteiro consegue entregar mais. Reflexões metafísicas são pontos chave no filme e a leveza como são abordadas impressionam. Os roteiristas conseguem, através de metáforas, demonstrar imparcialidade quanto a religiosidade, mas é visível como símbolos míticos como o "Yin Yang" estão presentes na história.
As metáforas não estão somente no roteiro. Estão também na direção de Alessandro Carloni e Jennifer Yuh. Existem cenas que lembram muito a pegada existencialista de Terrence Malik. Além disso, a paleta de cores usada nessas cenas são essenciais para uma limpeza e que corresponde à mensagem transmitida. A qualidade da animação é indiscutível; os traços caricatos aliados a uma espécie de personificação dos personagens permanece aqui. Mas, os níveis de detalhes nas expressões faciais, por exemplo, estão cada vez maiores. A trilha sonora começa a se fazer memorável, depois de três filmes da franquia. Se Sherk decepcionou a partir do terceiro longa, o panda Po ainda não o faz. É incrível como o tom de filme nunca varia e, mesmo com histórias não tão mirabolantes, os filmes de Kung Fu Panda se mantêm íntegros. É a aliança de uma boa ideia com o foco nas coisas importantes: a relação entre pai e filho, a exaltação de uma arte marcial que vem sendo difamada depois do fenômeno das lutas televisionadas, a preocupação com a natureza, a apresentação de uma paisagem natural exuberante aliada a elementos culturais/históricos da China, a criação de um universo familiar, além das questões morais/filosóficas que o filme inspira.
Pode-se dizer que Po é um dos personagens mais importantes atualmente. No primeiro filme, descobrimos que mesmo um ser taxado como inútil e desastrado pode se sair bem naquilo que tem vocação. E isso, no fundo, era o que realmente importava no filme. Aqui, mesmo que o desenvolvimento de certas estruturas de roteiro seja defeituoso, a mensagem principal é transmitida com perfeição. Portanto, "Kung Fu Panda 3" apesar de não prover uma história original, aborda questões morais e metafísicas interessantes, além de apresentar alívios cômicos certeiros e uma expansão coesa do universo da franquia.
Nota:
- Demolidor
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