domingo, 27 de março de 2016

Crítica de "Kung Fu Panda 3"

Em 2008 chegava aos cinemas a animação "Kung Fu Panda". Contando com um protagonista caricato e desajustado, o longa introduziu toda uma mitologia relacionada às artes marciais na China, sob a forma de animais mestres do kung fu. Iniciou-se então uma das mais rentáveis franquias de animação da Dream Works (ao lado de Shrek), que, em 2016, chega a seu terceiro filme. A fórmula é a mesma: crise de identidade do protagonista, a jornada do herói completa, a aparição de uma ameça e a solução do problema. Dessa vez, o filme acompanha a descoberta da família de pandas de Po e como o protagonista precisa virar um mestre do kung fu. No meio disso, surge uma ameça grandiosa que faz com que o herói prove sua grandiosidade. Essa história, por ser deveras clichê, tem seus pontos positivos e negativos. Por um lado, o desenvolvimento do vilão e suas motivações são muito rasos. Não se vê uma grande veracidade nas ações e o roteiro não é brilhante a ponto de estabelecer novos padrões de narrativa. Mas, por outro, o desenvolvimento da jornada de Po é perfeito. O panda passa por todas as provações necessárias a um herói e o roteiro consegue dar uma linearidade essencial a esse desenvolvimento. Um ponto que ajuda nisso tudo é o humor leve que o filme inspira e que está espalhado por diversos personagens. Não existe um centro cômico, o que retira a ameça de piadas previsíveis.

Tal roteiro é escrito por Jonathan Aibel e Gleen Berger. Por se tratar de uma continuação de uma franquia já querida, os roteiristas tiveram a oportunidade de ampliar o universo em que a história se passa. O misticismo relacionado ao kung fu, o acréscimo de personagens relevantes e a apresentação de um universo coeso engrandecem muito a história. Além disso, o relacionamento entre a comunidade dos pandas é muito harmonioso e emana um clima agradável ao espectador. Normalmente, filmes de animação têm como público alvo as crianças. Portanto, faz-se necessário uma mensagem por trás que seja inspiradora para o público mais jovem. "Kung Fu Panda 3" apresenta um ensinamento extremamente importante: todos nós aprendemos a todo o instante e o conhecimento só se faz completo através da comunicação com o outro. O filme consegue desenvolver, em seu roteiro, a desconstrução de um egocentrismo e, ao mesmo tempo, implantar ideais que sugerem um mundo mais igualitário. Mas, mesmo com tais reflexões morais, o roteiro consegue entregar mais. Reflexões metafísicas são pontos chave no filme e a leveza como são abordadas impressionam. Os roteiristas conseguem, através de metáforas, demonstrar imparcialidade quanto a religiosidade, mas é visível como símbolos míticos como o "Yin Yang" estão presentes na história.

As metáforas não estão somente no roteiro. Estão também na direção de Alessandro Carloni e Jennifer Yuh. Existem cenas que lembram muito a pegada existencialista de Terrence Malik. Além disso, a paleta de cores usada nessas cenas são essenciais para uma limpeza e que corresponde à mensagem transmitida. A qualidade da animação é indiscutível; os traços caricatos aliados a uma espécie de personificação dos personagens permanece aqui. Mas, os níveis de detalhes nas expressões faciais, por exemplo, estão cada vez maiores. A trilha sonora começa a se fazer memorável, depois de três filmes da franquia. Se Sherk decepcionou a partir do terceiro longa, o panda Po ainda não o faz. É incrível como o tom de filme nunca varia e, mesmo com histórias não tão mirabolantes, os filmes de Kung Fu Panda se mantêm íntegros. É a aliança de uma boa ideia com o foco nas coisas importantes: a relação entre pai e filho, a exaltação de uma arte marcial que vem sendo difamada depois do fenômeno das lutas televisionadas, a preocupação com a natureza, a apresentação de uma paisagem natural exuberante aliada a elementos culturais/históricos da China, a criação de um universo familiar, além das questões morais/filosóficas que o filme inspira.

Pode-se dizer que Po é um dos personagens mais importantes atualmente. No primeiro filme, descobrimos que mesmo um ser taxado como inútil e desastrado pode se sair bem naquilo que tem vocação. E isso, no fundo, era o que realmente importava no filme. Aqui, mesmo que o desenvolvimento de certas estruturas de roteiro seja defeituoso, a mensagem principal é transmitida com perfeição. Portanto, "Kung Fu Panda 3" apesar de não prover uma história original, aborda questões morais e metafísicas interessantes, além de apresentar alívios cômicos certeiros e uma expansão coesa do universo da franquia.

Nota: 


- Demolidor

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