quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Crítica de "Esquadrão Suicida"

DC Comics. Sinônimo de qualidade nos quadrinhos, é responsável pela criação dos heróis mais conhecidos pelo grande público no século passado. Heróis estes que são além da compreensão humana, muitas vezes representados por verdadeiros deuses. Eis que chega uma tal de Marvel e cria um universo totalmente pautado na relação de seres superpoderosos com um mundo mais palpável. E mais: teve a brilhante ideia de criar um Universo Cinematográfico coeso (o MCU), inaugurado pelo excelente "Homem de Ferro", de 2008, que permitiu ainda maior popularização dos heróis "marvéticos" e um grande acúmulo de capital para a empresa. A DC, com o longa "O Homem de Aço", de 2013, buscou seguir os passos da concorrência, tentando dar uma cara mais sombria aos filmes de herói e imitando a ideia de um mundo compartilhado pelos personagens da editora. A sequência "Batman vs Superman", lançada esse ano, foi um fracasso de bilheteria e crítica, por apresentar muitos elementos em um filme só e por não conseguir acertar um tom interessante. Eis que surge "Esquadrão Suicida", que poderia determinar o rumo da produtora: será que a Marvel realmente ainda está muito à frente ou a DC começa a acertar sua fórmula? Nem um, nem outro.

O grupo Esquadrão Suicida sempre foi de histórias mais desconhecidas da DC. Trata-se de uma associação de bandidos comandados por Amanda Waller que fazem o trabalho sujo que o governo não pode fazer. É inusitado um grupo tão pouco conhecido ganhar um filme próprio antes de ícones como Mulher Maravilha e Flash. Mas, talvez apostando no mesmo acerto que a Marvel realizou com o fenômeno "Guardiões da Galáxia", a DC/Warner Bros entregou o projeto na mão de David Ayer ("Corações de Ferro"). Trata-se de um diretor muito competente. As cenas de ação prezam por um espetáculo visual: existe um grande número de cenas em câmera lenta, explosões e tiros. Mesmo assim, o espaço é usado de uma forma que o espectador entenda a geografia da cena e não fique perdido em meio a tanta ação. Outro recurso que vale o investimento é o 3D: existem cenas que realmente usam da profundidade que o recurso oferece. É raro Hollywood oferecer isso, mas o diretor merece um crédito por tentar maximizar a experiência de quem compra um ingresso mais caro para uma sala 3D. A trilha sonora do longa é excelente, mas um pouco mal utilizada. Por um lado, as músicas selecionadas são de extrema qualidade. Por outro, elas são inseridas de uma forma estranha e artificial, e acabam tirando o público do que realmente importa: a história.

O roteiro (também escrito por Ayer) é um ponto oscilante. O primeiro ato é excelente: a introdução dos personagens é muito boa, principalmente a do Pistoleiro e da Arlequina. Aliás, o Pistoleiro é o grande cerne do filme. Will Smith oferece uma interpretação repleta de carisma e carga dramática e torna-se impossível não nos importarmos com o personagem. Seu arco é excelente e em nenhum momento ele viola a figura de anti-herói apresentada. Um personagem que deveria ser secundário ganha espaço devido a força de um grande ator. Margot Robbie impressiona na interpretação da Arlequina, acrescentando camadas importantes ao desenvolvimento de sua personagem. Existem piadas certeiras em relação ao seu comportamento louco, mas, ao final, elas se tornam repetitivas e premeditadas. Por fim, Viola Davis merece destaque atuando como a comandante do grupo, Amanda Waller. Ela dá uma força enorme a sua personagem, batendo de frente com os meta-humanos, através de diálogos acirrados e atitudes que surpreendem a todos (inclusive ao público). É interessante a representatividade que essa personagem inspira, principalmente por se tratar de uma mulher negra que tem controle sobre a vida de personagens tão poderosos. Outro ponto interessante do roteiro é a discussão acerca do próprio grupo. Ora, num período de crise de armamento misturado com a presença de super seres como vimos em "Batman vs Superman", o longa consegue misturar a realidade e a ficção, promovendo debates sobre a política e o poder através da existência de uma Força Tarefa que usaria da violência para manter (no caso) os EUA hegemônicos. Como a própria Waller diz: "Estamos na 3° Guerra Mundial".

O problema começa quando personagens em demasia são acrescentados. Tirando os já citados, o desenvolvimento de Crocodilo, El Diablo, Capitão Boomerangue e Rick Flag são pífios e não inspiram empatia alguma, o que impede a carga dramática da história. Esta apresenta uma trama deplorável. Trata-se de algo extremamente batido em Hollywood e totalmente desnecessário para a grandeza do filme em si. Ora, o roteiro deveria focar na relação entre esses personagens explosivos, mas a parte final foca demais na resolução de um problema impossível. Assim, o roteirista preza por artifícios e caminhos que facilitam a resolução do arco. É o famoso diálogo: "Ué, por que aquele personagem está ali?" ou "Como ele fez isso?". Simples. Porque o roteirista quis. Essas conveniências prejudicam muito o resultado final do longa. Apesar disso, o filme continua divertido e é uma boa distração. Talvez com dez minutos a menos seria mais dinâmico, porém ritmo não foi um problema. Contudo, a pergunta que não quer calar é: "Jared Leto é melhor do que Heath Ledger na interpretação do Coringa?". É diferente, eu diria. Leto preza por uma atuação mais parecida com os jogos da série Arkham, trazendo o Palhaço do Crime para um submundo mais gângster de forma mais verossímil, apesar de seus exageros devido a loucura do personagem. As cenas com o personagem são bem aproveitadas, principalmente aquelas em que o personagem realmente é um bandido. Há um senso de urgência e perigo muito pertinentes ao personagem. Por outro lado, seu romance com a Arlequina é um pouco forçado e só faz completo sentido aos fãs de outras mídias do personagem, como quadrinhos e jogos. Entre erros e acertos, "Esquadrão Suicida" é um bom divertimento, prejudicado pela falta de originalidade em um script que já vimos diversas vezes.

Nota: 




- Demolidor

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