É claro que o roteiro de Anthony McCarten segue seu papel de retratar fidedignamente todos os acontecimentos históricos, assim como a vida pessoal de Churchill, seus vícios e seu posicionamento político que, embora controverso, foi vital para a sobrevivência da Grã Bretanha contra o avanço do Terceiro Reich. Porém, McCarten se limita somente a isso e, tratando-se de uma produção cinematográfica, cuja função também reside no entretenimento, o público se vê constantemente sobrecarregado. E não é pelo fato de ser inteiramente pautado na veracidade dos fatos; o filme alemão "A Queda", por exemplo, passa-se quase que por inteiro dentro do bunker nazista, mas a direção e o roteiro contribuem para um ritmo ágil, que potencializa o nível de interesse pela obra. Apesar de Churchill ser um personagem deveras importante para o desenrolar da Guerra e para a virada dos Aliados, o longa britânico deveria ter a habilidade de inserir elementos narrativos que engrandecessem sua história, de modo a dar vigor para a obra. Um exemplo extremamente bem realizado disso é "O Jogo da Imitação" que, apesar de se situar no lugar comum da história real, apresenta elementos que aumentam o caráter artístico da obra. Em "O Destino de uma Nação", existem duas ou três cenas, no máximo, em que o espectador fica com o olhar fixo na tela - muito pelo fato do elenco estar ótimo. Essa inconstância sequencial dá ao filme uma "barriga" desnecessária e, com o passar do tempo, a preocupação deixa de estar com o andamento da história, mas sim com o seu fim.
Por outro lado, existem alguns aspectos cinematográficos que salvam o filme de uma catástrofe completa. A fotografia, o design de produção, o figurino, a maquiagem, a trilha sonora e a direção de arte, firmemente supervisionados pelo diretor Joe Wright, dão ao filme o tom necessário: todas as tonalidades de cor, as músicas e as roupas se assemelham muito ao retrato da época, o que concretiza o ideal do diretor em realizar uma volta ao passado. Por outro lado, a luz vermelha em determinada cena ou a câmera lenta acompanhando as pessoas na rua dão indícios de uma possibilidade mais qualitativa, porém Joe Wight se prende ao roteiro enfadonho e tedioso, fazendo com que sua câmera ofereça temas visuais impactantes em pouquíssimas oportunidades. Seu grande acerto refere-se à direção de seu protagonista Gary Oldman que está, muito provavelmente, realizando a atuação de seu Oscar. Em aliança ao excelente trabalho de maquiagem, Oldman nos provê um Churchill multifacetado, ora inseguro, ora confiante ao extremo. Além disso, mesmo com os trejeitos clássicos do ex primeiro-ministro, o ator afasta-se do senso comum de transformá-lo em alguém caricato. É perceptível o árduo nível de estudo de seu protagonista, sendo a cena do discurso de Churchill a mais memorável de toda a metragem. E chega em um momento da película que é simplesmente impossível separar o ator do personagem. Tudo flui de maneira tão orgânica que, em breves momentos, devido à genialidade da performance de Oldman, o filme dá bons respiros. Pena que tais respiros são breves e são rapidamente sufocados pela monotonia do script.
Desse modo, "O Destino de uma Nação" é fraco não pelo que é em si, mas pelo potencial que apresentava e pela qualidade daqueles envolvidos na obra. Claramente, é impossível comparar esse tipo de filme com algum que represente a guerra como ela é nos campos de batalha, mas "O Destino de uma Nação" mostra-se díspar daqueles que podemos considerar os melhores do gênero. A verdade é que falta uma identidade narrativa clara - e a dificuldade do roteiro em fazer com que as viradas dramáticas fiquem impactantes prejudicam ainda mais a obra. Infelizmente Gary Oldman será lembrado por um filme mediano, mesmo que tenha apresentado a atuação de sua vida. Mesmo assim, é inegável a importância do longa no que consta a memória narrativa, sendo bastante didático em relação ao ambiente da guerra. O problema reside, de fato, no valor de entretenimento e, até mesmo, artístico. Por meio de roteiro monótono e ritmo dificultado, "O Destino de uma Nação" se vale apenas de sua preponderância histórica e da primorosa atuação de seu protagonista.
Nota:
- João Hippert
Excelente crítica. Gosto como o longa aborda os bastidores da política inglesa. A atuação de Gary Oldman é sensacional. Eu, pessoalmente adoro pesquisar e ver filmes e documentários sobre política e temas polêmicos, como é o caso de um assunto tão atual como o brexit o filme que vai estrear neste mês. Eu assisti o trailer e achei muito incrível como o Benedict Cumberbatch está irreconhecível. Eu acredito que esta produção tenha tudo para ser um dos dramas mais interessantes do ano, seja pelas atuação como a trama em si.
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