domingo, 2 de abril de 2017

Crítica de "A Bela e a Fera"

Walt Disney Studio é sinônimo de clássico. Desde os primórdios do cinema, com a realização de "Branca de Neve e os Sete Anões", até o recente "Zootopia". Quando se trata de criar universos e personagens fantásticos, a produtora é imbatível. De uns tempos para cá, todavia, a Disney tem investido em produções que retomam universos já conhecidos pelo público. Basta lembrar dos recentes sucessos "Mogli" e "Malévola", que renderam uma boa bilheteria, além de serem elogiados por boa parte da crítica internacional. Eis que chega a vez de revistarmos um dos contos de fada mais clássicos de todos: "A Bela e a Fera", que já havia se tornado uma animação em 1991. O longa acompanha Bela (Emma Watson) que, após ficar presa no castelo de um terrível monstro (Dan Stevens), começa a desenvolver sentimentos pela fera, contrariando a opinião dos habitantes de seu vilarejo.

O roteiro do filme, escrito por Stephen Chbosky e Evan Spiliotopoulos, segue o senso comum da narrativa de mundos fantasiosos. As viradas são feitas com bastante segurança, sem surpresas maiores ao longo do longa. Isso é algo positivo, pois faz com que a direção e a fotografia se sobressaiam na representação do universo fantástico. Os roteiristas lidam muito bem com o primeiro ato do filme, em que somos apresentados ao cotidiano monótono de Bela e sua vontade por ser mais do que aquilo. Nesse sentido, o desenvolvimento da protagonista é perfeito, visto que ela é sempre senhora de seu destino e "motor" dos acontecimentos ao seu redor. Em tempos de escândalos machistas, uma mensagem como essa é imprescindível. Além disso, o roteiro introduz certos elementos que trabalham a sexualidade dos personagens, o que foi alvo de crítica ao redor do mundo. Contudo, o trabalho foi bem feito, reiterando o papel do cinema em quebrar certos tabus vigentes na sociedade.

A direção de Bill Condon é essencial para a construção do ambiente do filme. Desde o início, com o movimento da câmera se afastando e aproximando, dando sensação de pequenez e grandeza, o espectador consegue distinguir a dimensão dos locais referidos. A fluidez do movimento de câmera na cidade permitem cenas belíssimas, que são realizadas com excelentes números musicais. As músicas em si não precisam de comentários, já que são clássicas desde a animação de 1991. Mas a sensação de ouvir "Beauty and the Beast" e "Be Our Guest" na telona é sempre a melhor possível. A coreografia e o figurino são extremamente condizentes com o tom fabuloso da metragem. Bill Condon nos oferece uma jornada impressionante a um universo já conhecido, mas sob uma perspectiva diferente e especial. Talvez seja por isso que os remakes da Disney sejam tão bem feitos. O diretor tem a liberdade de dar seu ponto de vista para a história, mas esta continua sendo "A Bela e a Fera". Um clássico é um clássico, independente de sua roupagem.

Luke Evans interpreta um Gaston carismático e com forte presença em tela. Emma Watson mostra-se uma atriz com muitas camadas, ao conseguir dar força e sensibilidade para uma personagem deveras complexa. Talvez o único grande problema do filme seja seu ritmo. Na transição do primeiro ato de apresentação para o segundo ato de desenvolvimento, o diretor se perde um pouco no rumo da narrativa. Enquanto o início é levado com bastante naturalidade e calma, dando ênfase à criação dos ambientes e personagens, o segundo ato se acelera demasiadamente. O romance inicial entre a Bela e a Fera é resolvido em pouquíssimas cenas, o que tira do filme a fluidez que havia sendo apresentada. O amor entre os personagens só é crível devido ao conhecimento do público acerca da história prévia, o que configura um seríssimo problema estrutural da obra. Ademais, o filme de 2017 é uma digna refilmagem de um clássico, trazendo a história sob um ponto de vista inventivo, mas sem tirar o brilho que imortalizou a animação de 1991.

Nota: 

-João Hippert 

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