quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Crítica de "Assassin's Creed"

O cinema hollywoodiano sempre foi pautado na adaptação de outras mídias para as telonas. Por mais que roteiros originais existam em grande quantidade, a indústria cinematográfica sempre contou com o artifício de recontar algo já existente em um livro ou quadrinho. A partir dos anos 90, com o advento e a massificação dos videogames, tal mídia passou a servir de provedora de roteiros para filmes. Contudo, é um consenso geral que as adaptações de games para cinema não tiveram peso até o momento. Basta lembrar do mais recente "Warcraft": apesar de ser um filme divertido, foi rechaçado pela crítica especializada e não faturou tanto quanto deveria. Seria esse um mercado sem salvação? Eis que chega "Assassin's Creed" para responder tal pergunta. Infelizmente a resposta é alarmante.

O filme acompanha Callum Lynch (Michael Fassbender), que através de um programa que usa da memória genética, descobre que seu antepassado Aguilar era membro da Creda dos Assassinos. Agora no presente, Cal reúne forças para enfrentar os Templários. Trata-se de uma premissa básica, presente em todos os jogos da franquia. Mas o filme se diferencia por um fator muito importante e responsável pela ruína do potencial cinematográfico da obra. O interessante de jogar "Assassin's Creed" é viver em épocas passadas, visitar monumentos históricos, topar com pessoas famosas durante a campanha. Embora o roteiro de Michael Lesslie, Adam Cooper e Bill Collage consiga criar uma mitologia interessante em volta das organizações dos assassinos e templários, isso parece ser ignorado pelo resto da metragem. A maior parte do filme se passa no tempo presente. E, mais, existe um grande contingente de cenas que não dialogam com o propósito da franquia, o que torna o filme genérico demais. O início do longa é bastante promissor e as cenas de ação são bem coreografadas. Tais fatores permitem uma diversão descompromissada, mesmo que o valor artístico seja bem aquém da média.

É decepcionante ver tal potencial perdido, já que a ambientação do ano de 1492 é espetacular. O diretor Justin Kurzel utiliza de uma câmera aérea para mergulhar o espectador naquele universo que permite uma completa imersão. Todas as cenas que se passam na Espanha da época apresentam excelente design de produção, maquiagem, figurino e, até mesmo, montagem. A melhor cena do filme é a de uma perseguição entre as estreitas ruas espanholas. Além do diretor conseguir dinamizar a ação através de movimentos rápidos, algumas opções apresentam rimas com o próprio jogo, causando o chamado "fan service". Mas, tirando isso, o filme não tem muito cabimento. A direção tenta emular um estilo Zack Snyder de direção: utilização de zoom em personagem na batalha, aceleração de pequenos movimentos para aumentar a tensão do combate e as famigeradas cenas em câmera lenta. Apesar de ser bastante estilizado a princípio, esse estilo de direção cansa o espectador com o passar do tempo, principalmente por não sair do lugar comum. As cenas passam a se apresentar de maneira previsível e desinteressante.

O roteiro é extremamente problemático e utiliza de inúmeras incongruências para fazer a história avançar. Existem diversas decisões tomadas pelos personagens que não têm argumento algum, o que prejudica não só a força da trama, mas também o desenvolvimento dos personagens. Apesar do protagonista apresentar potencial para segurar o filme, ele é prejudicado por um roteiro limitado. Os diálogos presentes no filme são deploráveis. É perceptível como aquilo soa decorado e tira a atenção do espectador da história principal. E o pior: isso acontece quando atores como Michael Fassbender, Marion Cotillard e Jeremy Irons estão em cena. Mesmo sendo um elenco de respeito, a falta de peso do diretor e o roteiro medíocre prejudicam as interpretações dos atores. Todos apresentam lampejos de boa performance, mas a inconstância da metragem não dão sequência à qualidade. A personagem de Cotillard parece enigmática a princípio, mas logo se mostra sem profundidade alguma e sem peso em suas decisões. A forma como ela abandona suas verdades é jogada no espectador sem um desenvolvimento prévio. São decisões equivocadas como essa que estimulam o fracasso. "Assassin's Creed" apresenta um elenco mal aproveitado, direção sem originalidade, diálogos intragáveis e personagens esquecíveis. Contudo, existem (seletas) boas cenas de ação que tornam o filme uma opção para diversão despretensiosa, mesmo que com muitas ressalvas.

Nota: 

- João Hippert

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