domingo, 8 de janeiro de 2017

Crítica de "Moana - Um Mar de Aventuras"

Se existia alguma dúvida acerca da capacidade dos novos filmes da Disney, ela foi eliminada. Desde que a Pixar foi adquirida pela Disney e John Lasseter assumiu o controle, o estúdios mais antigo de animações do cinema têm realizado acerto atrás de acerto. Basta lembrar os últimos dois filmes da produtora: o jovem clássico "Frozen" e o excelente "Zootopia". "Moana" chega para oficializar o que já estava praticamente óbvio: a Disney ainda consegue fazer um cinema de relevância. O filme acompanha a garota Moana, em um mundo fantasioso, onde existem monstros e deuses. Ela sempre é impedida pelo pai de sair da ilha que mora, porém devido a circunstâncias extremas, a heroína precisa viajar o mundo, ao lado do semideus Maui, em uma jornada repleto de perigos e autodescobertas.

Apesar da premissa ser relativamente clichê e convencional, são os devaneios que engrandecem o poder do filme e as discussões que acarreta. Ora, a jornada principal do filme acompanha um semideus e uma pequena garota. Contudo, devido ao excelente desenvolvimento da protagonista e sua forte presença, toda decisão tomada pelo pequeno grupo é feita por parte dela. Mesmo que seja impossível competir com a força e poderes de Mauí, Moana apresenta um sentimento de perseverança e crença em seus próprios objetivos que a fortalecem ainda mais. Trata-se de uma personagem feminina extremamente forte e, por ser um filme voltado ao público infantil, a discussão do empoderamento é pertinente. Se em "Frozen" descobrimos a força das princesas do mundo congelado, em "Zootopia" nos encantamos com a astúcia da coelhinha Judy, "Moana" nos traz uma versão diferente de tudo que já vimos. Como ela mesmo diz, a personagem não é uma princesa, mas sim a filha do chefe da tribo. São pequenos diálogos como esse que servem para quebrar o tabu de que protagonistas femininas precisam ser princesas perfeitas. Moana é uma pessoa cheia de sonhos e medos, como todos nós, ao mesmo tempo que crê veementemente no caminho que trilha. A sua autoconfiança e o desejo de terminar a tarefa a qual se propôs a humanizam de forma tocante. O público é imediatamente impelido a torcer pelo êxito do grupo. É por isso que não há hesitação em afirmar que trata-se de uma das personagens mais relevantes do universo Disney.

A direção de Ron Clements e John Musker é extremamente eficaz. Existe uma limpeza visual que ajuda ao espectador a embarcar naquele mundo. Toda a metragem é muito bem conduzida e os arcos dos personagens são bem realizados. A relação entre Mauí e Moana é um dos pontos altos do filme devido a credibilidade. É muito difícil para Moana conquistar a confiança e o apoio do semideus. Além disso engrandecer as atitudes da protagonista, tal fato dá camadas para a mitologia do filme, visto que um ser superpoderoso deveria ser, realmente, bastante cético em relação aos "mortais". O visual do longa é fantástico, existe um cuidado meticuloso com cada frame animado, além da própria composição dos personagens, que mesmo caricatos, continuam sendo críveis. Vale destacar também a trilha sonora extremamente atuante, com destaque para a música "How Far I'll Go". É impossível não sair do cinema com a melodia na cabeça. Engraçado é que a mesma coisa aconteceu com "Let it Go", e deu no que deu...

Apesar de todos os elogios ao filme, algumas ressalvas precisam ser colocadas em pauta. O primeiro e segundo ato do filme apresentam alguns problemas de ritmo que dão ao filme uma certa lentidão indesejada. Se o desenvolvimento introspectivo de Moana foi feito de forma perfeita, algumas situações pela qual se depara são (às vezes) longas demais e realmente desnecessárias. Além disso, mesmo sendo uma animação musical, o excesso de músicas no filme prejudica um pouco o andamento da história. Há a sensação de que três músicas a menos fariam o filme mais ágil e objetivo. Tais pequenos problemas impedem o filme de ser perfeito, mesmo com toda a sua atualidade e relevância. Mesmo assim, o terceiro ato apresenta um ritmo ideal, contando com grandiosidade nas horas certas e rimas visuais que dão a famosa "recompensa" aos espectadores. É muito interessante ver como tudo resume-se a uma jornada por libertação e pela opção de seguir os próprios desejos. Tomando como base o sub-texto feminista, essa metáfora vale para a própria luta de igualdade das mulheres. E tudo isso em um filme da Disney! É gratificante ver como a nova leva de animações do estúdio consegue aliar uma história encaixada, com questões sociais extremamente atuais. "Moana" conta com uma discussão atual sobre o empoderamento feminino, envolta na metáfora por liberdade de escolha da própria protagonista.

Nota: 

- João Hippert

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