sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Crítica de "A Grande Aposta"

Adam McKay sendo reconhecido pela Academia e pelo Globo de Ouro? Sim, é o mesmo diretor responsável pelas duas comédias "O Âncora" e "Tudo por um Furo", que apesar de serem excelentes, não combinam com o prêmio Oscar. Mas, então, qual trabalho de tal diretor seria capaz de surpreender tanto? Trata-se de um filme que conta a história de alguns economistas e banqueiros que premeditaram a crise econômica de 2008 muito tempo antes de acontecer. Mas, sinceramente, esse trabalho de Adam McKay nos faz sentir falta da época de Ron Burgundy. Não pela escolha da história, que é até boa, mas pela forma que foi executada.

O roteiro escrito por McKay e Charles Randolph é adaptado do livro de Michael Lewis. O grande problema é a falta de identidade que inspira. O filme se perde muito ao não saber se estabelecer como uma comédia, um drama ou até mesmo um drama satírico. Dessa forma, o longa constantemente alterna seu tom e isso prejudica muito o desenvolvimento dos personagens. Aliás, o filme não apresenta nenhum personagem realmente palpável; todos são superficiais e desinteressantes. Isso se deve ao fato, principalmente, de que não existe foco em nenhuma subtrama da história, tudo é jogado na tela sem uma preparação prévia, o que provoca um grande problema de apego com os personagens. Esse problema só não é tão acentuado devido ao incrível trabalho dos atores. Christian Bale está (mais uma vez) excelente em seu papel, demonstrando versatilidade e uma paranoia obsessiva (Vale lembrar que o ator já interpretou um psicopata na mesma ambientação de Wall Street). Mas, o ator que segura realmente o filme é Steve Carell. Ele consegue tornar seu personagem um tanto quanto caricato, mas também passional, de forma que suas atitudes sejam sempre surpreendentes. Todo o tempo de tela dado ao ator é muito bem aproveitado e, sem sombra de dúvidas, é a parte mais interessante de todo o filme.

Mas, com o tempo, e toda a mudança de personagens, o filme torna-se extremamente confuso. O espectador já não consegue mais fazer um elo entre as ações e o roteiro torna-se extremamente vazio e entediante. Ora, a quantidade de termos de economia é imensa, e, mesmo fazendo tentativas humorizadas de explicá-los, simplesmente não funciona. E o grande problema disso tudo é que tamanha quantidade de termos no final não fez diferença alguma. A história teria se encaminhado muito bem sem tantas informações. Mesmo o filme não sendo tão grande em extensão (aproximadamente 2 horas), ele é, muitas vezes, monótono e lento. A direção de McKay tenta ser inventiva, mas é atrapalhada pelo roteiro falho. É visível a movimentação de câmera e a montagem que remetem muito a séries de comédia como "The Office", por exemplo. Se o filme se assumisse como uma comédia o tempo todo funcionaria perfeitamente, porém o fato de oscilar muito, prejudica esse tipo de direção, visto que não funciona dentro de padrões dramáticos. A decepção está no fato de que o começo do filme é muito promissor. Existe o recurso de "quebrar a quarta parede" que funciona muito bem, trazendo uma comédia extremamente irônica e funcional. Mas, depois de um tempo, esse recurso é simplesmente inexplorado e o filme realmente parece se "levar a sério". Ora, se fosse para ser um filme dramático sobre a crise econômica, Adam McKay certamente não seria a melhor escolha de direção.

Economia, comédia.. Lembra alguma coisa, certo? "O Lobo de Wall Street", que já é um clássico recente, demonstra como unir o mundo real com o mundo cinematográfico da comédia da melhor forma possível. E ainda mais: o filme funciona tanto como realização cinematográfica quanto como retrato fiel ao mundo da economia. O grande problema de "A Grande Aposta" é não se inspirar no modo como os fatos foram apresentados no filme de Scorsese. Logicamente existem alguns alívios cômicos certeiros no filme, muitos até contundentes quanto a situação social que a crise inspirou/inspira. E todo esse potencial cômico é tão mal explorado que decepciona. Uma história relevante como essa nas mãos de um grande realizador humorístico tinha tudo para dar certo. Mas, parece que (não sei se por opção do próprio diretor ou dos produtores) o filme optou por um caminho deveras mais fácil, longe da polêmica. Como resultado, temos um filme convencional e extremamente burocrático, com atuações desperdiçadas e a genialidade de um roteirista/diretor que não é aproveitada. O roteiro se desenvolve de forma massante, com informações desnecessariamente longas e inúteis para a história, tornando-se um filme apenas digno para praticantes da área de economia. Para o público cinéfilo, pode-se dizer que trata-se de (literalmente) um colapso.

Nota: 

- Demolidor


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