terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Crítica de "Spotlight - Segredos Revelados"

O papel da imprensa na descoberta e divulgação dos fatos sempre foi muito retratado no cinema. "Cidadão Kane" e "Todos os Homens do Presidente" são clássicos que abordam o panorama do jornalista perante à sociedade. Mais recentemente tivemos o excelente filme "O Abutre" que mostra como a mídia pode ser corrompida e corromper, ao mesmo tempo. Chega então 2015 com "Spotlight", um dos fortes favoritos ao Oscar. Mas o que o filme tem de tão especial? Trata-se de uma história baseada em fatos reais que acompanha a equipe Spotlight, pertencente ao jornal Boston Globe, em 2001, investigando casos de padres católicos da cidade que molestavam crianças. É um tema muito atual, visto que o escândalo é forte até hoje com descobertas cada vez mais profundas que chegam até o Vaticano.

O roteiro é escrito por Josh Singer ("O Quinto Poder") e Tom McCarthy ("Trocando os Pés"). Um grande mérito é mostrar de forma clara o cotidiano de um jornalista de grande porte, desde as reuniões na redação, até as horas a fio sem dormir e a paixão por histórias relevantes. Além disso, trata-se de uma grande homenagem a Spotlight (vencedora do prêmio Pultizer por Serviço Público), pois mesmo contra tantas adversidades, a equipe seguiu em frente com uma história deveras polêmica que, tanto podia elevar suas carreiras, como destruí-las. Em termos de realidade trata-se de um roteiro muito fiel aos fatos, mas em termos de obra artística é um pouco embaraçoso. Muitas vezes o espectador se vê perdido no meio de tantos nomes e processos jurídicos diferentes, visto que a apresentação do universo não é tão completa quanto a da equipe. Isso tira um pouco o público da história central, porque começam as perguntas: "Com quem é mesmo que ele tá falando?" ou "Que processo é esse?". Além disso, o filme apresenta um problema de ritmo, pois o arco emocional não é tão bem desenvolvido quanto deveria. Mesmo tratando-se de uma história real, seria necessário um clímax mais forte que condissesse com o tom que o longa propôs a tomar. Porém, esses problemas de ritmo e identificação com certos personagens  não atrapalham a experiência como um todo, pois trata-se de uma realidade muito contundente, apesar de configurar dessa forma um roteiro aquém do potencial que a história possui.

A direção é de Tom McCarthy. Trata-se de seu primeiro projeto audacioso baseado em fatos reais. E é o ponto alto do filme. Pode-se dizer que trata-se de uma direção depressiva, todavia no bom sentido (se é que existe um). À medida que as descobertas são feitas e o patamar do escândalo vai só aumentando, isso realmente mexe com as emoções do espectador. E isso é claramente um trabalho do diretor, no uso de cores frias e sem vida, trilha sonora melancólica e, principalmente, na condução dos atores na cena. É uma direção muito visceral, esmagadora que mostra o apelo de McCarthy em fazer uma crítica forte aos padres molestadores. E isso é muito importante: a crítica não é, de forma alguma, à religião católica, mas sim à Instituição devido ao poder excessivo da Igreja que é capaz de dominar Tribunais e a própria mídia, além da má conduta dos padres praticantes do estupro. E o diretor é pertinente quanto ao isso, ele faz questão de sempre relembrar que trata-se de crianças no processo. A câmera constantemente passa "involuntariamente" por um parquinho ou mostra crianças brincando perto da Igreja. É um apelo visual imenso, pois o espectador realmente entende a gravidade da situação e isso provoca uma espécie de mal-estar. Este é o grande mérito da direção: deixar o espectador se sentindo mal devido a um fato que aconteceu. Muitas vezes esse é o melhor método para as pessoas realmente enxergarem uma realidade opressora.

Outro ponto forte do filme é o elenco, com destaque aos atores Michael Keaton, Mark Ruffalo e John Slattery. Michael Keaton retorna mais uma vez a um bom papel depois do excelente "Birdman", servindo como uma espécie de mentor da equipe que coordena a investigação como um todo. John Slattery é uma agradável surpresa, pois consegue apresentar de forma orgânica a tensão que todos sentem ali e seu semblante muda de acordo com o filme. Porém, o destaque do "casting" é realmente Mark Ruffalo. Ele apresenta uma atuação apaixonada e realmente capta o espírito do repórter do caso, ofuscando os demais subalternos do personagem de Keaton. Ruffalo tem se mostrado cada vez mais inteligente na escolha de papéis e proporcionado excelentes atuações, lembradas, constantemente, pela Academia. O filme em si não é perfeito, longe disso. Apresenta alguns problemas de roteiro que prejudicam o engrandecimento de certos personagens, além da fotografia não ser muito explorada. Mas a direção e o elenco conseguem sustentar de forma eficiente o filme, atraindo a atenção do espectador para uma história brutal. Trata-se de uma crítica contundente a um sistema falido que precisa ser assistida como uma forma de conhecimento a uma realidade mais próxima do que se imagina e não como apreciação a um cinema perfeito.

Nota: 

- Demolidor

Um comentário:

  1. Sua crítica é boa. Eu adorei o trabalho de Michael Keaton. É de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores. Sempre demonstrou por que é considerado um grande ator. Devo dizer que Spotlight é um dos filmes Michael Keaton que eu mais gosto. É um filme bom e muito interessante. É um dos melhores filmes de drama, tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. Já estou esperando o seu próximo projeto, seguro será um sucesso.

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